terça-feira, 26 de janeiro de 2021

V - A FALHA NA TOMADA DO TEMPLO 1. DOMINGO DE RAMOS, por arturjotaef

 



Figura 1: Entrada triunfal de Jesus em Jerusalém no dia de ramos, de Giotto.

Marcos 10: 46 Então chegaram a Jericó. Quando Jesus e seus discípulos, juntamente com uma grande multidão, estavam saindo da cidade, o filho de Timeu, Bartimeu, que era cego, estava sentado à beira do caminho pedindo esmolas. 47 Quando ouviu que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”

48 Muitos o repreendiam para que ficasse quieto, mas ele gritava ainda mais: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”

49 Jesus parou e disse: “Chamem-no”. E chamaram o cego: “Ânimo! Levante-se! Ele o está chamando”. 50 Lançando sua capa para o lado, de um salto pôs-se em pé e dirigiu-se a Jesus.

51 “O que você quer que eu lhe faça?”, perguntou-lhe Jesus.

O cego respondeu: “Mestre, eu quero ver!”

52 “Vá”, disse Jesus, “a sua fé o curou”.

Imediatamente ele recuperou a visão e seguiu Jesus pelo caminho.

Mateus 20: 29 Ao saírem de Jericó, uma grande multidão seguiu Jesus. 30 Dois cegos estavam sentados à beira do caminho e, quando ouviram falar que Jesus estava passando, puseram-se a gritar: “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!”

 

 

 

31 A multidão os repreendeu para que ficassem quietos, mas eles gritavam ainda mais: “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!”

32 Jesus, parando, chamou-os e perguntou-lhes: “O que vocês querem que eu lhes faça?”

 

 

 

 

33 Responderam eles: “Senhor, queremos que se abram os nossos olhos”.

34 Jesus teve compaixão deles e tocou nos olhos deles.

Imediatamente eles recuperaram a visão e o seguiram.

Lucas 18: 35 E aconteceu que, chegando ele perto de Jericó, estava um cego assentado junto do caminho, mendigando. 36 E, ouvindo passar a multidão, perguntou que era aquilo. 37 E disseram-lhe que Jesus, o Nazareno, passava. 38 Então, clamou, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!

 

39 E os que iam passando repreendiam-no para que se calasse; mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!

40 Então, Jesus, parando, mandou que lho trouxessem; e, chegando ele, perguntou-lhe, 41 dizendo: Que queres que te faça?

 

 

E ele disse: Senhor, que eu veja.

 

42 E Jesus lhe disse: Vê; a tua fé te salvou. 43 E logo viu e seguia-o, glorificando a Deus.

E todo o povo, vendo isso, dava louvores a Deus.

Detenhamo-nos aqui. Quando vinha de Jericó, nessa época, e chegando à Betfagé, dois caminhos se abriam ante nós: a gente subia para o topo do monte das Oliveiras, a nossa direita, e por conseguinte em direção nordeste. O outro está diretamente diante de nós, passa pelo «jardim das Oliveiras» (que não é o monte de tal nome, mas sim se acha a seu pé), e atravessa o lugar conhecido como Getsêmani, onde se encontra uma prensa de azeitonas e seu armazém. Este lugar se faria célebre a seguir. Mas não há nenhum outro povoado antes de Jerusalém. Encontra-se tão somente, retrocedendo, o povo da Betânia, onde vivem Simão, o Leproso; Lázaro e suas irmãs, Marta e Maria, todos familiares e amigos de Jesus. Se o burrico e a burrica estavam atados a uma oliveira do chamado Getsémani, ou se estavam no povoado da Betânia (o qual teria comprometido um rodeio), ou em Betfagé, a verdade é que tinham sido colocados expressamente ali para preparar essa «realização» da visão de Zacarias. Era o empurrãozinho final. E, como é lógico, estavam vigiados, para que ninguém os roubasse, e para que seu destinatário final os tivesse a seu dispor chegado o momento oportuno. E assim foi. -- JESUS OU O SEGREDO MORTAL DOS TEMPLÁRIOS, Robert Ambelain.

This passage is purely messianic. It states unequivocally that the king will ride into Jerusalem on a foal. For what purpose? It is worth quoting succeeding passages in Zechariah.

When I have bent Judah for me, filled the bow with Ephraim, and raised up thy sons, O Zion, against thy sons, O Greece, and made thee as the sword of a mighty man.

(Zechariah 9:13)

And they shall be as mighty men, which tread down their enemies in the mire of the streets in the battle: and they shall fight, because the Lord is with them, and the riders on horses shall be confounded.

(Zechariah 10:5)

These passages prove that Jesus’s intentions were not peaceful when he ordered a foal of an ass to enter Jerusalem. He intended to destroy the enemies of Israel and institute a Jewish kingdom to bring peace to the world. By deliberately entering Jerusalem on a foal, Jesus was declaring himself King of the Jews, and declaring his intention to follow the prophecy of Zechariah. No Jew could have mistaken the symbolism and they shouted, “Free us, Son of David” as he entered the city. -- The Trial of Jesus, clip_image003[4]© Dr M D Magee Contents Updated: 28 October 1998

Figura 2: Entrada triunfal em Jerusalém ,de Pedro Orrente.

Para compreendermos os acontecimentos do domingo de ramos bastar-nos-iam as referências de Marcos, uma vez que os restantes sinópticos o seguem de perto!

Mar. 11, 1 E, logo que se aproximaram de Jerusalém, de Betfagé e de Betânia, junto ao monte das Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos 2 e disse-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós; e, logo que ali entrardes, encontrareis preso um jumentinho, sobre o qual ainda não montou homem algum; soltai-o e trazei-mo. 3 E, se alguém vos disser: Por que fazeis isso?, dizei-lhe que o Senhor precisa dele, e logo o deixará trazer para aqui. 4 E foram, e encontraram o jumentinho preso fora da porta, entre dois caminhos, e o soltaram. 5 E alguns dos que ali estavam lhes disseram: Que fazeis, soltando o jumentinho? 6 Eles, porém, disseram-lhes como Jesus lhes tinha mandado; e os deixaram ir. 7 E levaram o jumentinho a Jesus e lançaram sobre ele as suas vestes, e assentou-se sobre ele. 8 E muitos estendiam as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos das árvores e os espalhavam pelo caminho. 9 E aqueles que iam adiante e os que seguiam clamavam, dizendo: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! 10 Bendito o Reino do nosso pai Davi, que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! 11 E Jesus entrou em Jerusalém, no templo, e, tendo visto tudo ao redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia, com os doze.

Mat: 21, 1 E, quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, ao monte das Oliveiras, enviou, então, Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: 2 Ide à aldeia que está defronte de vós e logo encontrareis uma jumenta presa e um jumentinho com ela; desprendei-a e trazei-mos. 3 E, se alguém vos disser alguma coisa, direis que o Senhor precisa deles; e logo os enviará. 4 Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta, que diz: 5 Dizei à filha de Sião: Eis que o teu Rei aí te vem, humilde e assentado sobre uma jumenta e sobre um jumentinho, filho de animal de carga. 6 E, indo os discípulos e fazendo como Jesus lhes ordenara, 7 trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram as suas vestes, e fizeram-no assentar em cima. 8 E muitíssima gente estendia as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam pelo caminho. 9 E as multidões, tanto as que iam adiante como as que o seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! 10 E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, dizendo: Quem é este?

 

Luc: 19. 28 E, dito isso, ia caminhando adiante, subindo para Jerusalém. 29 E aconteceu que, chegando perto de Betfagé e de Betânia, ao monte chamado das Oliveiras, mandou dois dos seus discípulos, 30 dizendo: Ide à aldeia que está defronte e aí, ao entrardes, achareis preso um jumentinho em que nenhum homem ainda montou; soltai-o e trazei-o. 31 E, se alguém vos perguntar: Por que o soltais?, assim lhe direis: Porque o Senhor precisa dele. 32 E, indo os que haviam sido mandados, acharam como lhes dissera. 33 E, quando soltaram o jumentinho, seus donos lhes disseram: Por que soltais o jumentinho? 34 E eles responderam: O Senhor precisa dele. 35 E trouxeram-no a Jesus; e, lançando sobre o jumentinho as suas vestes, puseram Jesus em cima. 36 E, indo ele, estendiam no caminho as suas vestes. 37 E, quando já chegava perto da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, regozijando-se, começou a dar louvores a Deus em alta voz, por todas as maravilhas que tinham visto, 38 dizendo: Bendito o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas! Luc: 19.

 

Mateus 11 E a multidão dizia: Este é Jesus, o Profeta de Nazaré da Galiléia. 12 E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. 13 E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões. 14 E foram ter com ele ao templo cegos e coxos, e curou-os. (...) 15 Vendo, então, os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia e os meninos clamando no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se 16 e disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?

39 E disseram-lhe dentre a multidão alguns dos fariseus: Mestre, repreende os teus discípulos. 40 E, respondendo ele, disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamarão.

João: 12.12 12 No dia seguinte, ouvindo uma grande multidão que viera à festa que Jesus vinha a Jerusalém, 13 tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor! 14 E achou Jesus um jumentinho e assentou-se sobre ele, como está escrito: 15 Não temas, ó filha de Sião! Eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta. 16 Os seus discípulos, porém, não entenderam isso no princípio; mas, quando Jesus foi glorificado, então, se lembraram de que isso estava escrito dele e que isso lhe fizeram. 17 A multidão, pois, que estava com ele quando Lázaro foi chamado da sepultura testificava que ele o ressuscitara dos mortos. 18 Pelo que a multidão lhe saiu ao encontro, porque tinham ouvido que ele fizera este sinal. 19 Disseram, pois, os fariseus entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que todos vão após ele. (...) 23 E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do Homem há de ser glorificado. (...) 28 Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado e outra vez o glorificarei. 29 Ora, a multidão que ali estava e que a tinha ouvido dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou.

Sempre que nos evangelhos intervêm homens santos ou anjos temos que suspeitar que se trata de monges essénios. Neste caso tratava-se de facto da entronização dum candidato messiânico ao sumo-sarcerdócio sadoqueista apoiado pelos essénios.

João, que contou esta história muito mais tarde interpolou, ou alguém o fez posteriormente por si, ensinamentos messiânicos que se adequariam mais com as pregações que se seguiram à tomada do templo, descritas nos restantes sinópticos, ou mesmo a passagem relativas à predição da sua morte referidas nos sinópticos noutros contextos. Mas não disse que a entrada triunfal de Jesus Cristo foi feita pelo vale de Cedron como seria esperado embora se suspeite que o tenha sido porque esta seria a expectativa messiânica que Jesus bem conheceria.

According to local tradition, the Kidron will be the site of the Last Judgement. This belief lead to the creation of cemeteries in the Kidron Valley for Christians, Muslims and Jews alike. The Jews believe that the Messiah will come from the East, pass over the Mount of Olives and through the Kidron Valley before arriving on the Temple Mount. This has influenced burial patterns. For centuries Jews have buried their dead in the Kidron Valley on up into the Mount of Olives.

Ora, quiçá por ironia metafórica, o evangelho fala no vale de Cedron precisamente no final trágico desta tentativa messiânica falhada de tomar o templo de forma mais ou menos pacífica.


Figura 3: Vertente dos túmulos do vale de Cédrom.

O Vale do Kidron é um dos lugares mais sagrados de Jerusalém devido à sua localização entre o Monte do Templo e o Monte das Oliveiras. Neste monte está o cemitério judeu mais antigo do mundo, onde se acredita que a ressurreição dos mortos começa quando o Messias chegar. Segundo a lenda, uma ponte milagrosa cobrirá o vale no fim dos tempos, uma ponte através da qual os justos passarão pelo Monte do Templo.

Essa parte do Cedrom também é chamada Vale de Josafá, onde Deus julgará as nações do mundo (Joel, 4: 2). Também é chamado de Vale do Rei, porque já foi dedicado à agricultura intensiva e a renda que produzia era para o rei.

Joel 3:2 Almeida Revista e Corrigida 2009 (ARC)

congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá; e ali com elas entrarei em juízo, por causa do meu povo e da minha herança, Israel, a quem eles espalharam entre as nações, repartindo a minha terra.

Joel 3:12 Almeida Revista e Corrigida 2009 (ARC)

12 movam-se as nações e subam ao vale de Josafá; porque ali me assentarei, para julgar todas as nações em redor.

Se a intenção de Jesus nunca foi a de vir a ser rei de Israel a muito se arriscou, pois, era essa a expectativa messiânica dos que o seguiram nesta entrada triunfal em Jerusalém que ficou na liturgia religiosa conhecida como “domingo de ramos”.

João, Cap. 18 1 Tendo Jesus dito isso, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedron, onde havia um horto, no qual ele entrou com os seus discípulos. 2 E Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos.

Qual foi a data da “entrada triunfal de Jesus”? Teria o domingo de Ramos ocorrido antes da Páscoa ou durante a festa dos Tabernáculos? De acordo com os evangelhos foi na época da Festa da Páscoa, ou seja, na primavera. Entretanto, existem muitas indicações que não foi assim e que a Entrada Triunfal teria ocorrido no Outono, na época do festival judeu conhecido como Festa dos Tabernáculos.

Na verdade, a resposta a esta pergunta que, como muitas outras, os católicos e outros zelosos cristãos têm sempre na ponta da língua, deveria ser dada por judeus.

Na verdade, é inadmissível que os cristãos se tenham apropriado do Antigo Testamento como se sempre tivesse sido seu domínio de acção quando afinal estiveram a pontos de o abandonarem inteiramente no tempo de Marcião. Como, por birra pessoal contra este gnóstico, e porque ainda não tinham um Cânone próprio acabaram por ficar com a bíblia no colo, quando finalmente Eusébio conseguiu um Cânone evangélico respeitável a Bíblia só lhe poderia trazer dissabores porque o povo corria o risco de não, a saber, ler devidamente. A sua leitura passou a ser limitada à vulgata e, na prática proibida ao povo que nem vernáculo deveria saber ler. De facto, contrariamente ao islão, o cristianismo falhou em não ter investido na educação cristão instruindo as crianças pondo-as a ler os textos sagrados desde muito cedo possivelmente porque desde muito cedo a Igreja e o clero, perceberam que a sua leitura seria perigosa para que o credo confuso de Niceia pudesse aguentar-se em confronto com os evangelhos.

Quanto à leitura da Bíblia, observe-se quanto vai dito no artigo de PR 451/1999, págs. 547-549: [Ouve-se, por vezes, dizer que a Igreja Católica proibiu a leitura da Bíblia. A resposta há de ser deduzida de um percurso da história. Ora, está averiguado que, nos primeiros séculos, muito se recomendava a leitura do texto sagrado. Na Idade Média e em épocas posteriores (especialmente no século XVI) surgiram hereges (cátaros, valdenses, wycliff, reformadores protestantes) que traduziam a Bíblia do latim para o vernáculo instilando no livro sagrado idéias contrárias à reta fé. Daí proibições, formuladas por Concílios, de se utilizar a Bíblia em língua vernácula, a não ser que o leitor recebesse especial autorização para fazê-lo. As restrições foram impostas não ao texto latino, mas às traduções vernáculas, em virtude de fatores contingentes; a Igreja, como Mãe e Mestra, sente o dever de zelar pela conservação incólume da fé a Ela entregue por Cristo e ameaçada pelas interpretações pessoais dos inovadores da pregação; eis por que lhe pareceu oportuno reservar o uso da Bíblia a pessoas de sólida formação cristã nos séculos em que as heresias pretendiam apoiar no texto sagrado as suas proposições perturbadoras. Ainda no século XIX a Igreja via nas traduções vernáculas da Bíblia (patrocinadas pelas Sociedades Bíblicas protestantes) o canal de concepções heréticas. Todavia, a partir do papa S. Pio X (+1903), deu-se uma volta às fontes, que incluiu a recomendação da leitura da Bíblia, por parte de todos os fiéis, em língua vernácula. No momento presente, dado que existem boas edições da Escritura nas línguas vivas, a Igreja fomenta o recurso assíduo à Palavra de Deus escrita e lida no concerto da Tradição da Igreja.] -- Por Dom Estêvão Bettencourt, OSBFonte: Revista "Pergunte e Responderemos" nº 452

Enfim, ou os cristãos foram sempre tolos e de pouca fé ou a bíblia insuficientemente inspirada pelo Espírito Santo e pouco sagrada que da sua leitura não viesse a luz que ilumina o mundo mas antes o perigo da heresia e da discórdia! Obviamente que quem não é uma ovelha dócil do rebanho da Igreja se fica no que lhe parece, ou seja, que os católicos tiveram sempre pouca fé na Providência de Deus e muito menor confiança ainda na pouca clareza e coerência dos livros Sagrados.

Em todos os assuntos anteriores à passagem do cristianismo para o coração dos gentios os judeus deveriam ser os peritos mais abalizados para nos informarem sobre as interpretações a respeito das coisas judias. Infelizmente não tem sido assim e os judeus também não estariam muito disponíveis para facilitarem a vida aos exegetas cristãos e estes sempre propensos a desconfiarem dos pareceres daqueles. Enfim, os tempos que correm são outros e já temos opiniões judaicas que por vezes são mais papistas que o papa!

The most obvious feature that points to autumn as the date of the Triumphal Entry is the palms which were in evidence on Palm Sunday. At Passover time, there are no palm branches in the region, and it is unlikely that Jesus's admirers would have greeted him with withered palm branches left over from the previous autumn. Furthermore, palm branches played (and still play today) an essential part in the rites of the Festival of Tabernacles. The "branches of trees" mentioned in the Triumphal Entry accounts are also important in these rites, being used in profusion to roof over the "tabernacles" or booths which give the festival its name, and to accompany the use of the palms (see Leviticus xxii. 40). (…) This leads us to an even more important point: that the Feast of Tabernacles was in a special sense a Royal festival. In general, the Jewish royal family had little part to play in the ceremonials of the Jewish religion; but the exception was the Feast of Tabernacles. In this festival, the King actually entered the Temple Court and read aloud "the paragraph of the King," i.e., the portion of the Mosaic Law relating to his duties (Deut. xvii. 14-20) -- Revolution in Judea: Jesus and the Jewish Resistance by Hyam Maccoby.

A entrada triunfal terá ocorrido no Outono?

Ano 29 Outubro Dia 11 João 7: 2 Ora, estava próxima a festa dos tabernáculos dos judeus. 3 Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. 4 Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. 5 Pois nem seus irmãos criam nele. 6 Disse-lhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente. 7 O mundo não vos pode odiar; mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más. 8 Subi vós à festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda não é chegado o meu tempo. 9 E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galiléia. 10 Mas quando seus irmãos já tinham subido à festa, então subiu ele também, não publicamente, mas como em secreto. 11 Ora, os judeus o procuravam na festa, e perguntavam: Onde está ele? 12 E era grande a murmuração a respeito dele entre as multidões. Diziam alguns: Ele é bom. Mas outros diziam: não, antes engana o povo. 13 Todavia ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.

Curiosamente S. João é o único a colocar a cena dos “vendilhões do templo” no início do seu evangelho, logo a seguir ao seu primeiro milagre, o que é possivelmente ainda muito cedo mas indício bastante de que poderá ter sido, de facto, juntamente com o “domingo de ramos”, muito antes da Paixão, ou seja na festa dos tabernáculos também festa descrita apenas por João.

No entanto, a intenção de ser rei de Judá não ficou expressa nos evangelhos canónicos nem nos apócrifos, seguramente porque tal não veio a acontecer! De facto, os únicos evangelistas a dizer que Jesus foi ovacionado por “uma grande multidão” de gente que vinha à festa da Páscoa foi João que mais adiante corrige dizendo apenas “multidão” que bem pouco mais seria do que aquela antes referida como tendo estado “com ele quando Lázaro foi chamado da sepultura”. Marcos fala que “muitos estendiam as suas vestes e (...) daqueles “que iam adiante”. Mateus de “muitíssima gente” que pode não chegar a ser uma multidão e Lucas, de “toda a multidão dos discípulos”! Pelo menos no fim da manifestação já só as crianças gritariam hosanas, seguramente por acharem divertida a brincadeira dionisíaca em que a manifestação do domingo de ramos se tornara. De resto, parece que Jesus era mesmo mal conhecido pois o mesmo Mateus que refere amuitíssima gente estendia as suas vestesrefere também: “E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, dizendo: Quem é este?Em boa verdade, não se pode considerar que a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém tenha sido um grande e retumbante sucesso político mas ela foi ainda assim descrita não como a vinda dum profeta nem ou a dum líder religioso em moda mas a de um verdadeiro rei de Israel! Obviamente que, mesmo ignorando as regras de protocolo das grandes manifestações sociais da época, podemos aceitar que hosanas, no sentido de exaltação nos céus e regozijo de Deus e dos anjos com a glória daquele de quem se festejava o triunfo, poderiam ser, como nos triunfos romanos, dispensadas a qualquer figura pública de sucesso! Porém, esta cena de triunfo público foi descrita por todos os evangelista como tendo sido dispensada àquele que vinha em nome do Senhor como rei (João e Lucas), ou como filho de Davi (Marco e Mateus), o que vai dar ao mesmo. É certo que a expressão de Marcos “Benedictum, quod venit regnum patris nostri David” = “Bendito o reino que vem de nosso pai David” faz pouco sentido e deve ter sido mal traduzida do original que por ventura teria o mesmo sentido expresso em todos os outros evangelistas. “Bendito o que vem restaurar o reino de nosso pai Davi”! Ora, este facto não pode ter acontecido por mera metáfora mas porque realmente assim era a vocação política e religiosa do messias judaico e estas eram as expectativas do povo que aclamava Jesus como o rei ansiado que lhes iria restaurar a independência real. Com razão ou sem ela, ou seja, tivesse Jesus ou não legitimidade para ser um pretendente ao trono de Israel, a verdade é que ele aparece aqui aclamado como um Messias judeu, no sentido literal do termo, ou seja mais uma vez, como um candidato messiânico com a intenção de reinar no templo de Jerusalém como rei e sumo-sacerdote.

Marcos, 12: 35 E, falando Jesus, dizia, ensinando no templo: Como dizem os escribas que o Cristo é Filho de Davi? 36 O próprio Davi disse pelo Espírito Santo: O Senhor disse ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés. 37 Pois, se Davi mesmo lhe chama Senhor, como é logo seu filho? E a grande multidão o ouvia de boa vontade.

Mateus, 22 41 E, estando reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus, 42 dizendo: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles disseram-lhe: De Davi. 43 Disse-lhes ele: Como é, então, que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo: 44 Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. 45 Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho?

Lucas, 20: 41 E ele lhes disse: Como dizem que o Cristo é Filho de Davi? 42 Visto como o mesmo Davi diz no livro dos Salmos: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, 43 até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. 44 Se Davi lhe chama Senhor, como é ele seu filho?

João 7: 40 Então alguns dentre o povo, ouvindo essas palavras, diziam: Verdadeiramente este é o profeta. 41 Outros diziam: Este é o Cristo; mas outros replicavam: Vem, pois, o Cristo da Galiléia? 42 Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, a aldeia donde era Davi? 43 Assim houve uma dissensão entre o povo por causa dele. 44 Alguns deles queriam prendê-lo; mas ninguém lhe pôs as mãos.

Jesus deveria saber que a sua ascendência real seria questionável por a esta altura já saber que era bastardo, razão pela qual andaria de mal com a família que, possivelmente encontraria em Tiago o candidato mais adequado. Assim, Jesus, que seria adepto da pretensão sadoquista de que candidato messiânico poderia vir da linha sacerdotal de Aarão, teria que demonstrar biblicamente a sujeição da realeza temporal de David ao poder divino do sumo sacerdócio sadoquista que, por peripécias da história, viria a ser herdado pelo papado romano.

Jesus aparece montado num jumento como Dionísio! Para os judeus helenistas esta metáfora seria perfeitamente entendida como uma referência às festas de Adónis e, por isso, motivo suficiente para uma reprovação geral.

Todos os sinópticos se referem apenas a gente que seguia Jesus, ou seja, os partidários mais chegados. Lucas chega mesmo a dizer que seriam apenas os discípulos. Nenhum evangelista chega a transparecer uma entrada triunfal esfuziante. Em termo de política moderna podemos suspeitar que esta manifestação foi um fiasco político, o que, em termos preparatórios da insurreição que se lhe seguirá, como tentativa para tomar o poder duma cidade fortemente controlada por Roma, será um fracasso total.

Marc: 11, 11 E Jesus entrou em Jerusalém, no templo, e, tendo visto tudo ao redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia, com os doze.

Marcos, ao reconhecer que já era tarde, dá a entender que Jesus não encontrou no templo as condições de apoio que esperava para ficar ali e tomar o poder pela força!

Marc: 11, 12 E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. 13 Vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. 14 E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isso.

A maldição da figueira é um dos episódios mais estranhos dos evangelhos. Sob o ponto de vista ecológico seria hoje considerado como politicamente pouco correcto. Ora quem interpolou o evangelista Marcos, na sua ingenuidade, confirma mesmo que não era tempo de figos, porque a Páscoa é primavera e os figos aparecem na vindima, deixando a suspeita de que Jesus só poderia estar louco de raiva pelas energias negativas da figueira.

Uma curiosa confirmação como sendo Outono o tempo da Entrada Triunfal pode ser encontrada na história de Jesus amaldiçoando a figueira, que aconteceu imediatamente após sua Entrada. Jesus, aparentemente deparou-se com uma figueira sem frutos, e disse "Que nenhum fruto cresça jamais nesta árvore". Isto tem que ter acontecido no Outono, pois ninguém esperaria encontrar uma figueira carregada de frutos na primavera. A razão da reacção irada de Jesus é, provavelmente, o seguinte: Os profetas hebreus haviam predito de que o tempo do Messias seria de uma fertilidade nunca vista de plantas e animais (Joel 2:22 "... a figueira e a vinha dão a sua riqueza"). Jesus e os Galileus que o seguiam acreditavam em maus espíritos, e podem ter também acreditado que a figueira continha um mau espírito que estaria lutando contra o Reino de Deus. -- Jesus e a Resistência Judia - Parte 2, Hyam Maccoby. Tradução: Mário Porto. (com revisões do autor deste texto).

Se Jesus era um milagreiro tão poderoso, não poderia ter preferido fazer com que a figueira produzisse figos fora de época em vez de a ter amaldiçoado? Mas pode ter acontecido tudo isto em tempos de Outono e neste caso o facto de uma figueira não dar figos em tempo próprio era um mau augúrio já que os tempos messiânicos seriam de fartura primaveril e de paz eterna.

Claro que existe uma parábola de contornos semelhantes relativos à inutilidade moral dos que não produzem boas obras, mas então noutro contexto:

Mat: 24, 32 Aprendei, pois, esta parábola da figueira: quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão.

Lucas 21, 29 E disse-lhes uma parábola: Olhai para a figueira e para todas as árvores. 30 Quando já começam a brotar, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão.

A utilidade metafórica da figueira mediterrânea foi aqui exaltada com toda a justiça. A figueira era um dos suportes económicos da alimentação básica das populações mediterrâneas e, amaldiçoa-la, tem algo de crime cultural e antieconómico! Se o exemplo de secar figueiras que não dessem fruto fora de tempo tivesse pegado depois de dois mil anos de pregação dos mistérios da paixão, hoje não haveria figueiras nem outras árvores de fruto. Felizmente que nunca ninguém entendeu à letra este misterioso descontrolo emocional dum Jesus desesperado com os acontecimentos da véspera.

Nesta parábola estamos perante uma figueira estéril por não dar fruto no tempo devido mas o tratamento condescendente do vinhateiro contrasta com o do patrão severo da atitude anterior de Jesus.

Luc: “6 E dizia esta parábola: Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi procurar fruto nela, não o achando. 7 E disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não o acho; corta-a. Por que ela ocupa ainda a terra inutilmente? 8 E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; 9 e, se der fruto, ficará; e, se não, depois a mandarás cortar. ”.

Obviamente que estamos perante um episódio que, pela pouca teologia mística que pode ser extraída desta cena há que acreditar que se trata duma anedota verídica pelo seu lado vivido e psicanalítico revelando todo o desespero político que ia na alma de Jesus. Como a intentona tinha falhado, e Jesus não podia chamar “um figo” ao reino messiânico, a figueira é que acabaria por ”pagar as favas”. A injustiça moral deste episódio é tanta que obviamente envergonharia qualquer cristão que passa por ele como cão por vinha vindimada. No entanto, existe um apócrifo, pouco credível por sinal, que notou tanto a inoportunidade exemplar da cena que resolveu atribui-la a Pedro.

Agora, no dia seguinte, quando vinham de Betânia, Pedro estava com fome e percebendo uma figueira distante com folhas. Ele se aproximou, esperando encontrar frutos na árvore e, quando chegou, não encontrou nada além de folhas, porque ainda não era hora de figos. "E Pedro ficou zangado e disse:" Árvore amaldiçoada, ninguém come frutas de daqui para sempre para sempre. "E alguns dos discípulos ouviram falar. E no dia seguinte, quando Jesus e seus discípulos passaram, Pedro disse a Jesus:" Mestre, eis que a figueira que eu amaldiçoei é verde e florescente / Por que não minha maldição se apaga? "- O Evangelho dos Santos Doze[1].

Mesmo assim, existe um aspecto nos relatos evangélicos que deve ser realçado. Mateus, com este mesmo episódio, constrói um pretexto para exaltar o poder miraculoso de Jesus, mesmo que este fosse utilizado para fazer mal, como foi o caso da legião de demónios que foi expulsa dum possesso e entrou numa manada de porcos que se precipitou no mar lesando economicamente o seu dono!

Mat: 21. 18 E, de manhã, voltando para a cidade, teve fome. 19 E, avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela e não achou nela senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti. E a figueira secou imediatamente.

Que uma figueira seque por mera maldição eis algo de miraculosamente aterrador! Porém, em vês da indignação sensata vemos os tolos dos discípulos maravilhados com a proeza mesquinha e malabarista de Jesus.

Mat: 20 E os discípulos, vendo isso, maravilharam-se, dizendo: Como secou imediatamente a figueira? 21 Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até, se a este monte disserdes: Ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito.

No entanto, analisando o mesmo episódio em Marcos, que deve ter sido o mais adulto e mais fiel relator deste episódio verificamos que a patifaria milagrosa de Jesus pode ter sido feito à socapa da noite por alguém que sabe que Deus só ajuda quem faz por isso e que ninguém deixa de correr atrás dos seus objectivos, por mais ocultos que sejam, só por ter fé na virgindade de Maria! As figueiras, típicas de climas mediterrâneos semi áridos, tão facilmente secam quanto despontam, e se não forem muito grandes, podem secar se forem regadas perto do tronco com água ferver de modo a lhe cozer as raízes.

Marcos 11, 12 E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. 13 Vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. 14 E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isso.

Entretanto Jesus foi descarregar os nervos expulsando os vendilhões do tempo e, já mais calmo, aproveitou o suposto milagre da figueira para incitar aumentar o moral mais dos que com ele se tinham comprometido na tomada do templo, do que com os seus discípulos.

Marcos 11, 19 E, sendo já tarde, saiu para fora da cidade. 20 E eles, passando pela manhã, viram que a figueira se tinha secado desde as raízes. 21 E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira que tu amaldiçoaste se secou. 22 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Tende fé em Deus, 23 porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. 24 Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis. [2]

Como um bom treinador deve preparar a sua equipa para todas as eventualidades lá foi apelando ao perdão como condição para a aceitação da retaliação que inevitavelmente se iria seguir.

Marcos 11, 25 E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. 26 Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas.

Uma ”fé que move montanhas” se não passasse duma metáfora de treinador de futebol seria mais poderosa do que a magia negra! No entanto, se são os próprios evangelhos que por vezes permitem desfazer certos equívocos a respeito da interpretação do poder miraculoso de Cristo, por que razão a igreja não o fez sistematicamente? E quantos equívocos destes não seriam assim desfeitos se tivessem sobrevivido as múltiplas variantes dos evangelhos que teriam existido antes do sec. IV!

 

Ir para: A EXPULSÃO DOS VENDILHÕES DO TEMPLO (***)

 

Para terminar a questão da insurreição da expulsão dos vendilhões do templo enquanto tomada falhada do tesouro de Jerusalém talvez seja agora que a versão Paleoeslava eslava de Josefo da GUERRA JUDAICA 2.9.3b-f §174 (às vezes chamado de TESTIMÓNIO FLAVIANO):

Ainda que se trate, evidentemente, de uma interpolação, posto que inexistente no original grego da obra, não deixa de ser muito curioso o modo como o autor se vale de passos evangélicos para compor uma novela bizantina da prisão e condenação de Jesus absolutamente inédita.

Apareceu então um homem, se é que podemos chamar-lhe homem. A sua natureza e as atitudes exteriores eram humanas mas a sua aparência e as suas obras eram divinas. Os milagres que realizava eram grandes e surpreendentes.

(...) Costumava estar, de preferência, em frente da cidade, no monte das Oliveiras. Vendo a sua força e que, com as palavras, fazia tudo o que queria, pediram-lhe para entrar na cidade, massacrar as tropas romanas e Pilatos, e passar a governá-los. Mas ele não lhes dava ouvidos. Mais tarde, os chefes dos hebreus vieram a saber de tudo aquilo, reuniram-se com o Grande Sacerdote e disseram: “Somos impotentes e fracos para resistirmos aos romanos, como um arco frouxo. Vamos dizer a Pilatos o que ouvimos e não teremos aborrecimentos”. E foram falar dele a Pilatos. Este enviou homens, mandou matar muitos entre a multidão e prendeu o doutor de milagres. Informou-se melhor sobre ele e vendo que fazia o bem, e não o mal, que não era rico, nem ávido de poder real, libertou-o; de fato, tinha curado a sua mulher, que estava moribunda. E regressado ao local habitual, retomou o cumprimento de suas obras, e novamente um número maior de pessoas se aglomerou em torno dele. Os doutores da Lei, feridos pela inveja, deram trinta talentos a Pilatos, para que o mandasse matar. Este aceitou-os e deu-lhes autoridade para serem eles próprios a fazer o que desejavam. Desse modo, apossaram-se dele e o crucificaram, apesar da lei dos antepassados. Versão paleoeslava.



[1] Now the next day as they were coming from Bethany, Peter was hungry, and perceiving a fig tree far off with leaves. He approached hoping he might find fruit on the tree, and when he came he found nothing but leaves, because it wasn't time for figs yet." And Peter was angry and said to it, "Accursed tree, no man eat fruit from you hereafter for ever." And some of the disciples heard of it. And the next day as Jesus and his disciples passed by, Peter said to Jesus, "Master, behold, the fig tree which I cursed is green and flourishing/ Why didn't my curse take hold?" -- The Gospel of the Holy Twelve.

[2] 11.12 On the following day, when they came from Bethany, he was hungry. 11.13 And seeing in the distance a fig tree in leaf, he went to see if he could find anything on it. When he came to it, he found nothing but leaves, for it was not the season for figs. 11.14 And he said to it,” May no one ever eat fruit from you again.” And his disciples heard it. (…) 11.20 As they passed by in the morning, they saw the fig tree withered away to its roots. 11.21 And Peter remembered and said to him,” Master, look! The fig tree which you cursed has withered.”11.22 And Jesus answered them,” Have faith in God. 11.23 Truly, I say to you, whoever says to this mountain, 'Be taken up and cast into the sea,' and does not doubt in his heart, but believes that what he says will come to pass, it will be done for him.

domingo, 24 de janeiro de 2021

VI A PAIXÃO DE CRISTO 0 A PAIXÃO DE JESUS e a loucura mística da ressurreição, por arturjotaef.


Figura 1: Paixão de Turim, é uma pintura do pintor primitivo flamengo de origem alemã Hans Memling.

Contrariando o princípio maquiavélico caro a certos católicos, os fins morais de Jesus só ficavam justificados quando os meios utilizados fossem ainda mais nobres do que os próprios fins! Se quisermos, em Jesus os fins são justificados pelos meios! A glória política da “ressureição” do Messias apareceu miraculosamente como acréscimo místico de vitória póstuma do bem sobre o mal e foi justificada pela vitória pessoal de Jesus sobre a morte e sobre os ardis dos seus inimigos políticos e doutrinários!

Depois da insurreição no episódio da “expulsão dos vendilhões do templo”, como seria de esperar, a resistência judaica não cedeu:

Marc. 11: 18 E os escribas e príncipes dos sacerdotes, tendo ouvido isso, buscavam ocasião para o matar; pois eles o temiam porque toda a multidão estava admirada acerca da sua doutrina. 19 E, sendo já tarde, saiu para fora da cidade.

Marc. 11: 18 12E buscavam prendê-lo, mas temiam a multidão, porque entendiam que contra eles dizia esta parábola; e, deixando-o, foram-se. 13 E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.

Perante uma situação de impasse político, para as autoridades judaicas, que seriam mais sensatas do que os cristãos as têm querido fazer, o ideal seria conseguir a rendição voluntária de Jesus para se evitarem confrontos populares nas ruas estreitas de Jerusalém.

João 11: 49 E Caifás, um deles, que era sumo-sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis, 50 nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo e que não pereça toda a nação. 51 Ora, ele não disse isso de si mesmo, mas, sendo o sumo-sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação. 52 E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos. 53 Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem. 54 Jesus, pois, já não andava manifestamente entre os judeus, mas retirou-se dali para a terra junto do deserto, para uma cidade chamada Efraim; e ali andava com os seus discípulos. 55 E estava próxima a Páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da Páscoa, para se purificarem. 56 Buscavam, pois, a Jesus e diziam uns aos outros, estando no templo: Que vos parece? Não virá à festa? 57 Ora, os principais dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem.

Ora parece que os judeus tinham consigo um trunfo que era Barrabás!

A idéia de que Jesus nunca morreu realmente na cruz pode ser encontrada no Alcorão, que foi escrito no século VII - na verdade, os muçulmanos de Ahmadiya afirmam que Jesus realmente fugiu para a Índia. Até hoje, há um santuário que supostamente marca seu verdadeiro lugar de enterro em Srinagar, Caxemira. Com o início do século XIX, Karl Bahrdt, Karl Venturini e outros tentaram explicar a Ressurreição sugerindo que Jesus apenas se desvaneceu por esgotamento na cruz, ou lhe deram uma droga que o fez parecer morrer e que ele teria mais tarde revivido pelo ar frio e húmido do túmulo. Os teóricos da conspiração reforçaram essa hipótese ao apontar que Jesus havia recebido algum líquido em uma esponja enquanto estava na cruz (Marcos 15:36) e que Pilatos parecia surpreso com a rapidez com que Jesus havia sucumbido (Marcos 15:44). Consequentemente, eles disseram que o ressecamento de Jesus não era uma ressurreição milagrosa, mas apenas uma ressuscitação fortuita, e seu túmulo estava vazio porque continuava a viver. Embora estudiosos respeitáveis tenham repudiado essa chamada teoria do desmaio, ela continua recorrendo na literatura popular. Em 1929 D. H. Lawrence criou este tema em uma breve história na qual ele sugeriu que Jesus fugira para o Egipto, onde ele se apaixonou pela sacerdotisa Isis. Em 1965, o best-seller de Hugh Schonfield The Passover Plot alegou que foi apenas o esfaqueamento impensado de Jesus pelo soldado romano que frustrou seu esquema complicado para escapar da cruz vivo, embora Schonfield tenha admitido: "Nós não estamos reivindicando nada...que [O livro] representa o que realmente aconteceu. "A hipótese do desmaio surgiu novamente em 1972 no livro de Donovan Joyce, The Jesus Scroll, que" contém uma série de improbabilidades ainda mais incrível do que a de Schonfield", de acordo com o especialista em ressurreições, Gary Habermas. Em 1982, “holy Blood, holy Grail” acrescentou que Pôncio Pilatos tinha sido subornado para permitir que Jesus fosse derrubado da cruz antes de morrer. Mesmo assim, os autores confessaram: "nós não poderíamos - e ainda não podemos - provar a precisão de nossa conclusão". Recentemente, 1992, uma académica pouco conhecido da Austrália, Barbara Thiering, provocou uma reviravolta revivendo a teoria do desmaio no seu livro Reserve Jesus e o Riddle of the Dead Sea Scrolls, que foi introduzido com muita fanfarra por uma bem respeitada editora dos EUA e depois ironicamente demitido pelo estudioso da Universidade Emory, Luke Timothy Johnson, como sendo "a caca mais pura, um produto de uma imaginação febril, em vez de cuidadosa análise”.[1]

Quando se trata de liberdade de crença cada um acredita no que mais lhe convém, ou seja, existe um preconceito intrínseco a todo o sistema de fé que faz com que se acredite no que se está preparado para crer. Obviamente que quem não acredita em milagres antinaturais também não pode acreditar na ressurreição pós mortem porque tal constitui uma contradição absoluta tanto nos termos como nos princípios elementares das ciências médicas e ofende os pilares fundamentais do senso comum do pensamento actual. No entanto, os crentes em fantasias impossíveis são os primeiros a denegrirem as explicações racionalistas mais plausíveis por serem fantasiosas, o que demonstra uma hipocrisia intelectual inaudita, de que raramente se apercebem. Para qualquer crente as fantasias dos outros são sempre mais quiméricas do que as suas alucinações.

Porém, as ressurreições miraculosas não são exclusivas do cristianismo e só por um grosseiro desconhecimento se ignora toda uma longa série de ressurreições mitológicas, se bem que a sensatez da mitologia clássica oficial preferisse as metamorfoses como solução para a vitória da virtude sobre precariedade da vida. Hércules e Teseu passaram pelos infernos e voltaram à vida. Os cultos de morte e ressurreição mística eram o elemento fundamental dos ritos pascais pré cristãos, como o de Adónis e Tamuz. Osíris nuns mitos ressuscitou e foi morto novamente enquanto noutros ressuscitou sexualmente e fecundou Ísis, o que estava em sintonia o conteudo sexual dos ritos de passagem de que estes mitos faziam parte. Ou seja, por vezes os antigos eram mais relutantes que os cristãos em romperem com a lógica elementar do senso comum de que neste mundo só a morte é absoluta inelutável e irreversível.


Figura 2: Pintura de autor desconhecido em painel com cenas da Paixão da Igreja Cristã de Santiago em Torun na Polónia.

 

Ver: TAMUZ (***)

 

Ressurreições como as de Lazaro eram relativamente fáceis para Jesus e continuaram a sê-lo para os apóstolos cujos Actos e legendário estão repletos de milagres deste tipo. Deixando aqui as devidas desculpas aos crentes pelo lado blasfemo desta argumentação a verdade que deveria ser a facilidade com que se morria e ressuscitava na antiguidade, cristã, e não só, o que deveria colocar, os cristãos modernos, na retranca em relação à realidade literal da ressurreição de Jesus. Os erros de diagnóstico e as mortes aparentes fizeram, por insuficiência médica, as delícias dos taumaturgos antigos.

Claro que S. Paulo aceitava que a ressurreição mística de Cristo era a essência nuclear da crença cristã, mas, estaria ele a pensar na ressurreição física de Jesus ou antes na ressurreição mística de Cristo? É que, quer queiramos quer não, aceitar a ressurreição literal de Jesus implica aceitar como plausíveis todas as restantes ressurreições literais anteriores e posteriores à de Jesus. Apostar que a de Jesus foi a única na história da humanidade é sintoma de orgulho cultural tão estulto como o dos judeus se julgarem ainda um povo eleito (quando já será apenas a duodécima parte das tribos de Israel). Em qualquer caso, constituem uma singularidade de fé que deixa de ser um assunto para discussão académica e passa a ser assunto para comentar no espaço recolhidos das igrejas. Chamar a estas discussões cientistas e médicos é apenas sintoma de fraqueza de fé ou fragilidade mística.

Para que Jesus possa ser colocado na tradição eterna dos ciclos de morte e ressurreição mística da natureza há que aceitar esta realidade apenas no plano mítico e procurar na ciência apenas os factos que possam desvendar o suporte natural justificativo do fenómeno social da crença na ressurreição física, outrora tão comum e hoje reduzido aos limites do imponderável nas unidades de cuidados intensivos dos hospitais civilizados. Dito deste modo, a crença na ressurreição literal é um resquício de paganismo, tal como a deificação de Cristo na pessoa exclusiva do homem Jesus constitui uma contradição nos termos, obrigando-o a fazer figura de pelintra ao lado da deificação em vida dos imperadores romanos e outros semideuses da antiguidade.

A este respeito os óbices levantados por judeus e muçulmanos continuam hoje mais pertinentes do que nunca. O facto de os cristãos não começarem a racionalizar as suas crenças e dogmas e a despirem a tradição evangélica dos seus resquícios de superstição, transformando o maravilhoso mítico dos textos sagrados em eufemismos de mera retórica mística, só contribui para que os ”homens de boa vontade” se afastarem para não perderem o comboio da vanguarda da tradição espiritual em que o gnosticismo colocou o cristianismo e do qual este foi banido quando não se adaptou à sensatez dos tempos do fim do império romano.

Segundo S. Paulo, a crença na morte de Jesus, que constituía um motivo de orgulhosa loucura divina para os cristãos, era um escândalo para os judeus e um sinal de loucura para os gentios não tanto por ter sido seguida de ressurreição mas por ter sido uma morte ignominiosa na cruz!

1ª Cor. 1, 18Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. 19porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria e o entendimento dos entendidos. 20Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? 21Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem. 22Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, 23nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, 24mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. 25Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.

Pois bem, são as próprias palavras de mística insensata de S. Paulo, tão contestado por isso mesmo no seu tempo, que têm que ser revistas no contexto da modernidade para se retomar o verdadeiro sentido humanista da história de Jesus.

1ª Cor. 15, 11Então, ou seja eu ou sejam eles, assim pregamos e assim crestes.12Ora, se se prega que Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, como dizem alguns entre vós que não há ressurreição de mortos?

Obviamente que esta afirmação corresponde a uma contradição óbvia nos termos o que significa que não seria bem isto o que Paulo quereria dizer. Paulo apenas poderia afirmar que alguns continuavam a dizer:“não há ressurreição de mortos”, mesmo depois de muitas pregações de discípulos de Cristo e mesmo tendo sido isto há mais de dois mil anos.

Mas de facto, para Paulo a ressurreição era a principal razão de se ser cristão!

13Mas se não há ressurreição de mortos, também Cristo não foi ressuscitado.14E, se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.15E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não são ressuscitados.16Porque, se os mortos não são ressuscitados, também Cristo não foi ressuscitado.17E, se Cristo não foi ressuscitado, é vã a vossa fé, e ainda estais nos vossos pecados.18Logo, também os que dormiram em Cristo estão perdidos.

Ou seja, S. Paulo envolve-se num raciocínio que qualquer académico aristotélico teria considerado medíocre. As redundâncias repetitivas da mesma ideia revelam mais as incertezas argumentativas de S. Paulo do que a convicção lógica do que se expõe, pois o seu raciocínio parece perdido em falácias ad terrorem. O lado místico do conceito Paulino da ressurreição é bem patente na forma como a equaciona, com todas as falácias possíveis com o conceito metafísico de corpo ressurrecto:

1ª Cor. 15, 35Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? e com que qualidade de corpo vêm? 36Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. 37E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como o de trigo, ou o de outra qualquer semente. 38Mas Deus lhe dá um corpo como lhe aprouve, e a cada uma das sementes um corpo próprio. 39Nem toda carne é uma mesma carne; mas uma é a carne dos homens, outra a carne dos animais, outra a das aves e outra a dos peixes. 40Também há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. 41Uma é a glória do sol, outra a glória da lua e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. 42Assim também é a ressurreição, é ressuscitado em incorrupção. 43Semeia-se em ignomínia, é ressuscitado em glória. Semeia-se em fraqueza, é ressuscitado em poder. 44Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.

A metáfora mística torna-se ainda mais surpreendente quando Paulo abusa da loucura divina afirmando:

1ª Cor. 15, 51Eis aqui vos digo um mistério: Nem todos dormiremos mas todos seremos transformados, 52num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados. 53Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade. 54Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrito: Tragada foi a morte na vitória. 55Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? 56O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. 57Mas graça a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.

Se são Paulo falava literalmente e não numa linguagem mística e metafórica então porque é que os mortos modernos não ressuscitam literalmente e apenas são reanimados pela medicina? Como ignorar que toda esta ideologia mística fazia parte dum conjunto mais vasto de crenças obscuras que tinham por suporte subconsciente a esperança do fim da opressão do império romano manifestada na Parúsia apocalíptica do fim do mundo? Ora, se nem a parusia (ou parúsia) aconteceu, quando ainda se acreditava como estando próxima dos tempos apostólicos, nem mais tarde nos movimentos milenaristas, seria motivos para começar a duvidar da literalidade da fraseologia doutrinária que acompanhava estas crenças.

De resto, as citações dos poemas proféticos anti-termodinâmico são controversas:

“Tragada foi a morte na vitória.

55Onde está, ó morte, a tua vitória?

Onde está, ó morte, o teu aguilhão?

Isaías 25:8 Massorético: Vai tragar a morte na vitória…”

LXX: "A Morte prevaleceu e tragou os homens.”

Oséias 13:14 Massorético: “…Ó morte, eu serei as tuas pragas; Ó cova, eu serei a tua destruição.”

LXX: Onde está a tua pena, Ó morte? Ó Hades, onde está o teu aguilhão?

E não basta desculpar S. Paulo dizendo, como se dum escritor comum se tratasse, que de Isaías não se trata de uma “citação exacta, porém é mais que uma referência. Não há razão para se acreditar que seja baseada na LXX em vez de no texto em Hebraico. E que Paulo não está citando Oséias realmente, mas expressando um pensamento semelhante.”

Enfim, a respeito de Santos inspirados pelo divino Espírito Santo não deveria ser bem assim, ou seja, cada um inspira e expira conforme a fé que tiver! E para São Paulo a pregação era a sua forma de transpirar e de ganhar a vida com o suor do rosto! Se S. Paulo não fora um homem religioso convicto teria sido um agente romano interessado em impregnar o judaísmo acético e monoteísta de misticismo oriental. Mas a convicção interesseira de S. Paulo revela-se obvia! Não eram os preceitos morais nem a sabedoria de vida cristã trazida por Jesus que lhe interessavam mesmo que fosse isso afinal o reino de deus pregado por Jesus. O ambicioso, batalhador e justiceiro S. Paulo pretendia ganhar tudo com a sua fé em Cristo ou seja porque a trombeta soará e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados…em corpo e alma!

Obviamente que este misticismo Paulino só seria novidade para S. Paulo pois qualquer iniciado nos mistérios gregos e outros mistérios solares de morte e ressurreição saberia o mesmo!

Possivelmente o que teria transformado este fanático da ortodoxia judaica num adepto duma ressurreição em que mesmo os fariseus acreditavam sem precisarem da mediação nem do compromisso de Jesus Cristo seria de facto um mistério nunca revelado mas que afinal seria outra forma de escândalo: Cristo estava vivo em Damasco na casa de Ananias e S. Paulo vi-O, tocou-O e falou com Ele e talvez ambos se tenham mutuamente seduzido! Dai a profunda convicção de S. Paulo a respeito da ressurreição de Jesus de cuja morte teria tido a profunda convicção dos restantes judeus dos anos em que perseguiu os primeiros cristãos.

A tese oficial mais credível do senso comum judaico era a de que ninguém escapa a morte na cruz e a falta do corpo no túmulo de Jesus só poderia ser um roubo com ocultação de cadáver, crime ainda hoje punível pela lei penal moderna. Nunca teria passado pela cabeça de um qualquer judeu da época e menos pela de S. Paulo que Jesus tivesse simplesmente ludibriado a morte na cruz. Alguns discípulos sabiam que Jesus teria conseguido ludibriar a morte e para eles esse era o milagre bastante e a resposta possível ao repto poético de Oseias:

Ó morte, eu serei as tuas pragas;

Ó cova, eu serei a tua destruição.”

Mas, é óbvio que o cristianismo, neste como noutros pontos, só se sustenta no plano das metáforas místicas e, portanto, a análise da teologia racional dos evangelhos entre duas mentiras piedosas possíveis e alguns erros de tradução nos obriga a aceitar a mais sensata no plano da razoabilidade. A esse respeito o evangelho apócrifo de Filipe parece ser bem mais inteligente quando afirma:

21. Aqueles que dizem: "O Senhor primeiro morreu e depois ressuscitou", se equivocam. Ele primeiro ressuscitou e depois morreu. Se alguém antes não procura a ressurreição, não morrerá. Assim como Deus vive, aquele estaria já mo rto. -- O Mistério da Câmara Nupcial ou O Evangelho de Filipe.

De facto, ou a ressurreição de Jesus é tão verdadeira como as que Ele, seus discípulos e tantos outros taumaturgos, efectuaram ao longo da história por mero erro do diagnóstico da morte, ou seja uma mentira técnica inadmissível num texto que se pretende irrepreensível na inspiração divina mas aceitável nos limites da falibilidade humana, ou se tratou duma verdade histórica distorcida pela crendice popular com a cumplicidade da hierarquia eclesiástica, verdade esta que não passou duma fraude piedosa, mais doutrinária do que política, destinada a fazer com que Jesus pudesse, mais uma vez, dar uma lição aos poderosos do seu tempo tornando-se motivo de escândalo para os judeus e fazendo com que os romanos passassem por parvos! Na verdade, Jesus enquanto espírito radical e judeu de sangue nunca poderia deixar de ser, em rigor natural, pelo menos tão anti-romano que o comum dos judeus do seu tempo. O mesmo se poderia dizer hoje de qualquer cidadão do terceiro mundo que, sem as ver nem ouvir, se apercebe das incongruências dos bem-pensantes crentes no «god save America” que são as lágrimas de crocodilo vertidas no conforto dos sofás do «American way of life» sobre o leite derramado das crueldades antigas como se não houvera, de forma mutatis mutandis cruezas relativas modernas bastantes para pensar que uma visão medieval de Cristo coloca o cristianismo numa posição mais arcaica do que o sempre humano Sócrates, o pouco santo e muito humano profeta Maomé ou o muito humano e mais ainda virtuoso Buda.

The plush setting was starkly incongruous with the subject we were discussing. There we were, sitting in the living room of Metherell's comfortable California home on a balmy spring evening, warm ocean breezes whispering through the windows, while we were talking about a topic of unimaginable brutality: a beating so barbarous that it shocks the conscience, and a form of capital punishment so depraved that it stands as wretched testimony to man's inhumanity to man.[2]

Porque é que de todos estes grandes vultos do passado que permanecem presentes por detrás da ética moderna têm menos direito à divinização do que Jesus sendo apesar de tudo historicamente menos incontestados? Precisamente por isto, ou seja porque a divindade participa do mito e este deve pouco há história! E a história vale ainda hoje muito menos que uma boa mal contada que possa ser escrita ou filmada e…vendida!

Um antigo pesquisador que ensinou na Universidade da Califórnia, Metherell é editor de cinco livros científicos e que escreveu para publicações que vão desde Aerospace Medicine até Scientific American. Sua análise engenhosa da contracção muscular foi publicada em The Physiologist e Biophysics Journal. Ele mesmo veste o papel de uma autoridade médica de forma distinta: ele é uma figura imponente com cabelos prateados e um comportamento cortês e formal.

Eu serei honesto: às vezes me perguntei o que estava acontecendo dentro de Metherell. Com a reserva científica, falando devagar e metódica, ele não deu nenhuma sugestão de qualquer turbulência interior, enquanto descrevia calmamente os detalhes arrepiantes da morte de Jesus. Tudo o que estava acontecendo por baixo, qualquer angústia que ele causasse como cristão para falar sobre o destino cruel que aconteceu com Jesus, ele foi capaz de a mascarar com um profissionalismo nascido em décadas de pesquisa laboratórial. Ele apenas me deu os fatos e, afinal, era o que eu tinha procurado viajando ao longo do país para os conseguir. [3]

Com todo este glamour californiano não há leitor de literatura cor-de-rosa que não fique convencido que a prova cientifica de cristianidade se continua a fazer à boa maneira medieval. Já nem é mesmo sequer necessário saber se o magister dixit (quod dixit) por ter sido laureado com um prémio Nobel bastando para tanta razão de autoridade meras credenciais duma pós graduação num curso universitário californiano do século XX numa medicina aeroespacial de ficção científica do século XII.

O irrisório da situação é imaginar que analisar cientificamente a morte e ressurreição de Jesus à luz desta novíssima especialidade médica incorre tanto no risco da insipiência dos recém-nascidos quanto na possibilidade de poder ser tomada por uma estranha forma de ironia angelical que tem quase tanto de mitologia urbana quanto de laivos de ovnilogia, de mistura com anacronismos por defeito de profissão do tecnicismo moderno. Em rigor, pode e deve recorrer-se a todos os instrumentos de análise desde que sem parti pris nem, sobretudo, grandes saltos mortais fora dum ambiente aeroespacial!

Inicialmente, eu queria provocar de Metherell, uma descrição básica dos eventos que levaram à morte de Jesus. Então, depois de um tempo de bate-papo social, abaixei meu chá gelado e me movi na minha cadeira para encará-lo direc

tamente. "Você poderia pintar uma imagem do que aconteceu com Jesus?" Eu perguntei. Ele limpou a garganta. "Ele começou depois da Última Ceia", disse ele. "Jesus foi com seus discípulos para o Monte das Oliveiras - especificamente, para o Jardim do Getsêmani. E, se você se lembrar, ele rezou a noite toda. Agora, durante esse processo, ele estava antecipando os próximos eventos do próximo dia. Como ele sabia que a quantidade de sofrimento deveria ter que suportar, ele estava naturalmente experimentando um grande stresse psicológico: "Levantei minha mão para detê-lo." Whoa - aqui é onde os cépticos têm um longo dia de trabalho de campo ", lhe disse eu. "Os evangelhos nos dizem que ele começou a suar sangue neste momento. Agora, vamos, não é só um produto de alguma imaginação hiperactiva? Isso não questiona a exactidão dos escritores do evangelho? "Insatisfeito, Metherell sacudiu a cabeça."Na verdade, respondeu ele, "esta é uma condição médica conhecida chamada" HEMATIDROSIS ". Não é muito comum, mas está associado a um alto grau de stresse psicológico.[4]

Esta teoria, apresentada aqui com parangonas de descoberta aeroespacial não é original pois outros pensaram e incorreram no mesmo erro de acreditarem no mito da hemohidrose mas nem sempre tiveram a falta de lucidez de confundiram este fenómeno esfíngico com uma hemorragia em toalha, de abundância tal que pudesse provocar choque por hipovolémia.

Na vizinhança de Getsémani, Jesus, aparentemente sabendo que o tempo de sua morte estava próximo, sofreu grande angústia mental e, conforme descrito pelo médico Lucas, seu suor se tornou como sangue. (1) Embora este seja um fenómeno muito raro, o suor sangrento (hematidrose ou hemohidrose) pode ocorrer em estados altamente emocionais ou em pessoas com distúrbios hemorrágicos. (18,20) Como resultado da hemorragia nas glândulas sudoríparas, a pele torna-se frágil e macia. (2,11) As descrições de Lucas suportam o diagnóstico de hematidrose em vez de cromidrose ecrina (suor marrom ou amarelo-verde) ou estigmatização (sangue escorrendo das palmas das mãos ou em outros lugares). (18,21) Embora alguns autores tenham sugerido que a hematidrose produziu hipovolemia, concordamos com Bucklin (5) que a perda real de sangue de Jesus provavelmente era mínima. No entanto, no ar frio da noite, (1) pode ter produzido calafrios.--  [5]

A verdade é que estamos perante fenómenos que se revestem de roupagem de ciências biomédicas mas que se referem a realidades que têm mais de medicinas alternativas do que de veracidade clínica. Não necessito sequer de invocar o meu estatuto de perito médico-legal para confirmar que nunca conheci tal fenómeno, que também nunca me foi ensinado fora do contexto bíblico, nem conheci nunca nenhum colega que alguma vez tenha encontrado um caso clínico destes que, dada a sua suposta raridade, a aparecer daria direito a um simpósio médico e a primeiras páginas nos jornais, promovido por uma industria de expansores plasmáticos, e a contento de amantes de videntes e estigmatizados.

"Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo. Posso portanto escrever sem presunção a respeito de morte como aquela. Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra. O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a decisão de um clínico. O suar sangue, ou”hematidrose", é um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais. Para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra. -- Dr. Barbet, médico francês.

Neste caso o medico Lucas, um médico da época de Galeno, se não estava a divagar metaforicamente por sua conta e risco, terá usado um dos muitíssimos conceitos erróneos da medicina hipocrática para descrever em segunda mão algo que seria tão metafórico como ”suar as estopinhas”, ”sofrer até às fezes”, ou ”passar as passas do Algarve”! De facto, O suar sangue, ou ”hematidrose", é um fenômeno (tão) raríssimo” que nem sequer existefora do contexto do evangelho segundo S. Lucas pelo que terá que concluir-se que se trata duma velharia médica exclusiva da arqueologia medieval católica...fruto mais de uma materialização metafórica do que de realidade delirante. Utiliza-la ainda nos dias de hoje como meio de prova num contexto de aceitação literal dos evangelhos seria o mesmo o mesmo que incluir a teoria do «bucho tombado ou de espinhela caída” da medicina popular nas aulas de patologia geral, anacronismo tão pouco recomendável como todas as que os cristãos criticavam na mitologia dos pagãos da época clássica!

Sabendo-se que ainda hoje a gíria da dermatologia deve muito a metáforas morfológicas e aceitando que Lucas tinha a probidade dum médico honesto, é possível que a ”hematidrose”,nome inventado por médicos que, na época de Lucas, não teriam escrúpulos em provaremquea morte de Hércules tinha sido, de facto e veramente, provocada pelo feitiço vingador da camisa ensanguentado com o próprio sangue do centauro Nesso, correspondendo por isso à descrição morfológica dos exsudados sero-hemático, por fragilidade capilar, consecutivas a lesões erosivas da epiderme particularmente no caso de lesões pós-traumáticas tais como: lesões bolhosas esfoliativas, abrasões e escoriações extensas. Neste caso a denominada ”hematidrose” de Lucas estaria deslocada do contexto porque deveria fazer parte das cenas seguintes da flagelação, ou seja, a cena do “Ecce homo”. No entanto, como se verá, a flagelação é de historicidade duvidosa porque parece que não faria parte do sistema penal romano e de facto, os dois ladrões crucificados com Jesus pareciam estar pendurados na respectiva cruz, robustos e frescos como uma alface, a julgar pela sua loquacidade e ironia.

 

Ver: A MORTE DE HÉRCULES (***)



[1] The idea that Jesus never really died on the cross can be found in the Koran, which was written in the seventh century -in fact, Ahmadiya Muslims  contend that Jesus actually fled to India. To this day there's a shrine that supposedly marks his real burial place in Srinagar, Kashmir. As the nineteenth century dawned, Karl Bahrdt, Karl Venturini, and others tried to explain away the Resurrection by suggesting that Jesus only fainted from exhaustion on the cross, or he had been given a drug that made him appear to die, and that he had later been revived by the cool, damp air of the tomb. Conspiracy theorists bolstered this hypothesis by pointing out that Jesus had been given some liquid on a sponge while on the cross (Mark 15:36) and that Pilate seemed surprised at how quickly Jesus had succumbed (Mark 15:44). Consequently, they said, Jesus' reappearance wasn't a miraculous resurrection but merely a fortuitous resuscitation, and his tomb was empty because he continued to live. While reputable scholars have repudiated this so-called swoon theory, it keeps recurring in popular literature. In 1929 D. H. Lawrence wove this theme into a short story in which he suggested that Jesus had fled to Egypt, where he fell in love with the priestess Isis. In 1965 Hugh Schonfield's best-seller The Passover Plot alleged that it was only the unanticipated  stabbing of Jesus by the Roman soldier that foiled his complicated scheme to escape the cross alive, even though Schonfield conceded,”We are nowhere claiming... that [the book] represents what actually happened.”The swoon hypothesis popped up again in Donovan Joyce's 1972 book The Jesus Scroll which”contains an even more incredible string of improbabilities than Schonfield's,”according to Resurrections expert Gary Habermas In 1982 sadded the twist that Pontius Pilate had been bribed to allow Jesus to be taken down from the cross before he was dead. Even so, the authors confessed”We could not--and still cannot--prove the accuracy of our conclusion.”As recently as 1992 a little-known academic from Australia, Barbara Thiering, caused a stir by reviving the swoon theory in her book Jesus and the Riddle of the Dead Sea Scrolls, which was introduced with much fanfare by a well-respected U.S. publisher and then derisively dismissed by Emory University scholar Luke Timothy Johnson as being”the purest poppycock, the product of fevered imagination rather than careful analysis. -- THE MEDICAL EVIDENCE: WAS JESUS’ DEATH A SHAM AND HIS RESURRECTION A HOAX?, Taken from THE CASE FOR EASTER Lee Strobel.

[2] The Case for Easter: A Journalist Investigates the Evidence for the Resurrection, Strobel, Lee

[3] A former  research scientist who has taught at the University of California, Metherell is editor of five scientific books and has written for publications ranging from Aerospace Medicine to Scientific American. His ingenious analysis of muscular contraction has been published in The Physiologist and Biophysics Journal He even looks the role of a distinguished medical authority: he's an imposing figure with silver hair and a courteous yet formal demeanor. I'll be honest: at times I wondered what was going on inside Metherell. With scientific reserve, speaking slowly and methodically, he gave no hint of any inner turmoil as he calmly described the chilling details of Jesus' demise. Whatever was going on underneath, whatever distress it caused him as a Christian to talk about the cruel fate that befell Jesus, he was able to mask with a professionalism born out of decades of laboratory research. He just gave me the facts and after all, that was what I had traveled halfway across the country to get. -- The Case for Easter: A Journalist Investigates the Evidence for the Resurrection, Strobel, Lee.

[4] Initially I wanted to elicit from Metherell, a basic description of the events leading up to Jesus' death. So after a time of social chat, I put down my iced tea and shifted in my chair to face him squarely.”Could you paint a picture of what happened to Jesus?”I asked. He cleared his throat. 1'It began after the Last Supper,”he said.”Jesus went with his disciples to the Mount of Olives-specifically, to the Garden of Gethsemane. And there, if you remember, he prayed all night. Now, during that process he was anticipating the coming events of the next day. Since he knew the amount of suffering be was going to have to endure, he was quite naturally experiencing a great deal of psychological stress,”I raised my hand to stop him.”Whoa - here's where skeptics have a field day,”I told him.”The gospels tell us he began to sweat blood at this point. Now, come on, isn't that just a product of some overactive imaginations? Doesn't that call into question the accuracy of the gospel writers?”Unfazed, Metherell shook his head.”Not at all,'1 he replied.”This is a known medical condition called”HEMATIDROSIS". It's not very common, but it is associated with a high degree of psychological stress. -- The Case for Easter: A Journalist Investigates the Evidence for the Resurrection, Strobel, Lee.

[5] At nearby Gethsemane, Jesus, apparently knowing that the time of his death was near, suffered great mental anguish, and, as described by the physician Luke, his sweat became like blood. (1) Although this is a very rare phenomenon, bloody sweat (hematidrosis or hemohidrosis) may occur in highly emotional states or in persons with bleeding disorders. (18,20) As a result of hemorrhage into the sweat glands, the skin becomes fragile and tender. (2,11) Luke's descriptions supports the diagnosis of hematidrosis rather than eccrine chromidrosis (brown or yellow-green sweat) or stigmatization (blood oozing from the palms or elsewhere). (18,21) Although some authors have suggested that hematidrosis produced hypovolemia, we agree with Bucklin (5) that Jesus' actual blood loss probably was minimal. However, in the cold night air, (1) it may have produced chills. -- EVIDENCE FOR THERESURRECTION, By Josh McDowell.