sábado, 23 de março de 2013

V - A TOMADA FALHADA DO TEMPLO 5. DA ÚLTIMA CEIA À AGONIA NO HORTO, por arturjotaef



Figura 1: Última Ceia de Cosimo Rosselli na capela Sistina.

As regards the upper chamber in which our Lord held His Passover, some say that it belonged to Lazarus, and others to Simon the Cyrenian, and others to Joseph the senator; but Joshua the son of Nun, the Catholicus, says that it belonged to Nicodemus. The apostles remained in the upper chamber ten days after the Ascension, being constant in fasting and prayer, and expecting the Spirit, the Comforter, which our Lord Jesus Christ promised them. -- [1]

As informações apócrifas e colaterais sobre factos da vida de Jesus têm por vezes o mérito de nos revelarem o imprevisível. Neste caso, como já sabemos que a última ceia se passou no cenáculo que era a casa de João Marcos, comprovamos que este era de facto Lázaro, filho de Simão de Sirene, o mais rico dos apoiantes nazorenos de Jesus. Por ser o mais rico e possivelmente também zelota e quase seguramente o sogro de Jesus, Simão o Leproso seria o que teve mais falsos nomes, por necessidades de clandestinidade nos tempos conturbado que precederam a guerra da Judeia.

 

Fredriksen [Jesus de Nazaré, 117-119] aceita o caráter de Páscoa do evento e coloca as ações de Jesus no contexto de refeições messiânicas em seu próprio ministério e em Qumran. Ao discutir os últimos dias em Jerusalém (página 252), ela assume a historicidade básica da narrativa da última ceia como uma refeição final autoconsciente, na qual Jesus falou de sua morte iminente dizendo as palavras sobre o pão e o copo.

 

Luedemann [Jesus, 94-97] conclui que as formas assimétricas citadas em 1 Cor 11 são mais antigas que as formas paralelas dos ditos sobre o pão e o copo em Marcos. Ele também sugere que a perspectiva escatológica apresentada por Jesus é uma adição posterior e observa que não tem nada a ver com o dom de pão e vinho. Por outro lado, Luedemann observa que o texto paulino reflete um desenvolvimento posterior a Marcos, com seu duplo comando para repetir o ritual da ceia em memória de Jesus. No final, Luedemann decide que as diferenças entre Marcos e Paulo são pequenas o suficiente para ele usar os dois relatos para determinar o conteúdo da refeição final e as maneiras pelas quais a ceia foi entendida pelos primeiros cristãos.

Ao mesmo tempo, Luedemann conclui que o retrato de Jesus celebrando tal ritual na noite anterior à sua morte não é histórico. Ele está claro que "não existe um relacionamento genérico" entre qualquer refeição final real e a Ceia do Senhor entendida em termos de culto. Ele também nega o caráter pascal da ceia como uma criação markana. Como Meier (abaixo), Luedemann aceita o ditado (Marcos 14:25) sobre como beber vinho no reino de Deus como autêntico. Ele conclui: (esse ditado) "dificilmente surgiu na comunidade primitiva, pois nela Jesus não exerce nenhuma função especial para os crentes na refeição festiva no céu que é iminente. Somente a expectativa de Jesus de um futuro reino de Deus fica no centro, não Jesus como salvador, juiz ou intercessor. "

 

Ao discutir o ditado sobre Beber Vinho no Reino de Deus (Marcos 14:25, Meier [Marginal Jew II, 302]) observa que "a historicidade de uma última refeição de despedida realizada por Jesus com seus discípulos é geralmente aceita por estudiosos de todo o espectro , uma vez que a sua existência é apoiada pelo critério de atestado múltiplo e pelo critério de coerência ".

 

 

A BENÇÃO DO PÃO

Marcos 14: 22 E, comendo eles, tomou Jesus pão, e, abençoando-o, o partiu, e deu-lho, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. 23 E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho; e todos beberam dele. 24 E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que por muitos é derramado.

 

25 Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide, até ao dia em que o beber novo, no Reino de Deus.

Mateus 26: 26 Enquanto comiam, tomou Jesus o pão e depois de pronunciar a benção, partiu-o e deu a Seus discípulos, dizendo: 27 "Tomai e comei: Isto é o Meu corpo". Tomou em seguida um cálice em Suas mãos, deu graças e o entregou dizendo: "Bebei dele todos. 28 Porque este é Meu sangue, sangue da aliança, que vai ser derramado por muitos para a remissão dos pecados. 29 Eu vos digo: Não beberei mais deste produto da videira até ao dia em que o hei-de beber de novo convosco no reino de Meu pai.


Figura 2: «Tomai e comei este é o meu corpo»! Ultima Ceia de Tintoreto.

A respeito da 1ª missa Lucas revela-se mais dependente da oralidade pois apresente, como habitualmente, uma versão parecida com a dos sinópticos mas baralhada.

Lucas, 22: 15 E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça, 16 porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no Reino de Deus. 17 E, tomando o cálice e havendo dado graças, disse: Tomai-o e reparti-o entre vós, 18 porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até que venha o Reino de Deus. 19 E, tomando o pão e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isso em memória de mim. 20 Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento {ou Pacto} no meu sangue, que é derramado por vós.

Na verdade, Lucas expressa-se com uma retórica em paralelismo típica da oralidade. Assim, os versículos 19 e 20, por conterem uma repetição de conceitos, pelo menos em relação ao cálice (ainda que se possa aceitar que o que fica dito a respeito de comida, que na época seria essencialmente pão, se pode considerar depois repetido na repartição do pão), são uma descarada interpolação posterior feita com o propósito de considerar indubitável a criação do sacramento da eucaristia como rito fundador do cristianismo.

Porém, como Jesus tudo iria fazer para conseguir ludibriar a cruz lá foi fazendo o voto de nazoreno de que só voltaria a beber vinho novo daí a meio ano já no reino messiânico de seu pai, um sumo-sacerdote essénico.

A ideia do corpo místico faria parte da pregação secreta de Jesus na medida em que aparece em S. João muito cedo logo na sequência do famoso milagre da multiplicação dos pães.

João, 7: 51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo. 52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer? 53 Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. 54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último Dia. 55 Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. 56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.

A cena da repartição mística do pão e do vinho não é referida no mais místico de todos os evangelhos, o evangelho segundo João, precisamente porque o seu autor não esteve presente o que corrobora a tese de que este foi escrito (ou inspirado) por Maria Madalena que se sabe não ter estado presente e, por isso mesmo, também não poderia ser o “discípulo amado” ali referido. Este discurso profundamente gnóstico e místico, cheio de tagarelice e redundância tipicamente feminina, dito como se dum hino em paralelismo se tratasse, já na altura foi do desagrado do bom senso tanto dos judeus comum como de muitos dos alunos do rabino que era Jesus, segundo o testemunho deste mesmo evangelista.

Como adiante se verá, Marcos nunca se refere a Deus como seu pai enquanto os restantes evangelistas parecem abusar de confiança religiosa Jesus. Quase de certeza, os copistas e tradutores posteriores de Marcos 14: 25 fizeram pela primeira vez esta confusão mas agora em prejuízo da verdade do original que estranhamente se manteve em Mateus o que demonstra que a censura dos evangelhos nunca foi sistemática nem organizada por um único censor. Assim, o “reino dos céus” seria originalmente em Marcos idêntico ao de Mateus, ou seja, o reino de meu pai que seria o sumo-sacerdote sadoquista em exercício na época entre os essénicos.

Sendo assim, o evangelho de Marcos torna-se historicamente aceitável se repararmos que Jesus terá de facto feito um pacto contratual (testamento ou aliança) com as autoridades judaicas no sentido se entregar de livre vontade enquanto cabecilha do incidente da “expulsão dos vendilhões do templo” a troco da libertação de vários insurrectos que com ele tinham participado na tomada do Templo no Domingo de Ramos pagando ainda um suborno de 30 dinheiros, possivelmente destinados a Pilatos.

[…] Os sumos sacerdotes murmuravam por [ele] ter entrado na sala de convidados para oração. Mas alguns escribas foram lá cuidadosamente para o prender durante a oração, porque eles tinham medo das pessoas, desde que ele foi considerado por todos como um profeta. Eles chegaram-se a Judas e disseram-lhe “O que está fazendo você aqui? Você é discípulo de Jesus”. Judas respondeu-lhes como eles desejavam. E ele recebeu um pouco de dinheiro e entregou-o a eles. -- O EVANGELHO DE JUDAS.

A ideia dos teólogos cristãos de que o Evangelho de Judas é gnóstico e anticristão ab inicio “já que praticamente nada contém em comum com os quatro Evangelhos ou a fé cristã, excepto o uso dos nomes "Jesus" e "Judas" é de facto apenas de interesse teológico e não histórico porque ainda não sabemos inteiramente se o gnosticismo será mesmo uma deriva herética do cristianismo introduzida de acordo com a lendas cristão por Simão Mago, o pai de todas as heresias, ou se foi o cristianismo que se separou à custa d esforço dos teólogos cristãos, doutores e patriarcas cristãos da ganga primitiva do gnosticismo judaico que partilhava a espiritualidade oriental, recebida primeiro durante a passagem pelo Egipto no tempo de Moisés e depois durante o longo cativeiro da Babilónia, com os múltiplos cultos clássicos órficos e de mistérios.

Ireneu, na sua obra "Refutação de Todas as Heresias" escreve:

"Mais uma vez, outros declaram que Caim derivou seu ser do Poder Superior e reconheceu que Esaú, Cora, os Sodomitas, e todas essas pessoas estão relacionados umas com as outras. Neste registo, eles acrescentam que foram assediados pelo Criador, mesmo que nenhum deles tenham sido feridos. Sofia tinha o hábito de trazer para eles o que pertencia a ela. Eles declaram que Judas, o traidor, estava perfeitamente informado dessas coisas, e que ele sozinho, sabendo a verdade como nenhum dos outros a conhecia, realizou o mistério da traição; Através dele, todas as coisas, tanto terrestres como celestiais, foram confundidas. Eles produziram uma história de ficção deste tipo, com a qual eles focalizam o Evangelho de Judas".

Assim sendo, somos inclinados a suspeitar que este relato setiano, mesmo com os defeitos teológicos que lhe aponta Ireneu, pode conter tanta verdade histórica como qualquer outros relato evangélico canónico ou apócrifo bastando para isso que faça sentido no esclarecimento do mistério da Paixão e não apenas no plano da história científica como mesmo no plano de uma teologia racional.

Sendo assim é óbvio que no pequeno e único trecho de cariz histórico do evangelho de Judas não se relata a entrega de Jesus mas as condições da sua rendição. A prova é que o relato do evangelho de Judas se refere a um período de tempo que antecedeu em três dias da “última ceia”. Outra coisa que o evangelho de Judas nos confirma é que este não traiu Jesus como a tradição o fez crer porque Jesus estava por perto, na sala de oração dos convidados do sumo-sacerdote, assistindo ao acordo de entrega.

O facto de este acordo ter sido secreto e o de os discípulos não terem nunca entendido as referências que Jesus a ele fez na Última Ceia, foram as razões dos equívocos que transformaram Judas num traidor, o que foi particularmente sentida provavelmente pela sua própria irmã, Maria Madalena, inspiradora do 4º evangelho.

 

Ver: TRIPLA PREDIÇÃO DA PAIXÃO (***)

João 18: 1 Tendo Jesus dito isto, saiu com seus discípulos para o outro lado do ribeiro de Cédrão, onde havia um jardim, e com eles ali entrou.

O Vale de Cédrão seria literalmente o vale dos cedros e a sua importância escatológica seria devida ao foco de ser um cemitério ou seja, um local sinistro de enterramentos, túmulos e monumentos fúnebres relativos à história real de Jerusalém.


 Figura 3: O Túmulo de Zacarias no vale de Cédron.

O Vale do Cédron se estende ao longo do muro oriental de Jerusalém, separando o Monte de Templo do Monte das Oliveiras. Continua ao leste pelo Deserto da Judéia, em direção ao Mar Morto. O Vale é o local de muitos túmulos judaicos, inclusive o Pilar de Absalão, a tumba de Bene Hezir, e o Túmulo de Zacarias.

Certa vez, a água da Fonte de Giom fluiu pelo vale, mas foi desviada pelo Túnel de Ezequias para prover água a Jerusalém. Actualmente permanece sem água mesmo no inverno.

Devido a eventos ocorridos durante o período do Rei Jeosafá, de Judá, o vale da torrente do Cédron também passou a ser profeticamente chamado de Vale de Jeosafá ou “baixada de Jeosafá” – Emek Yehoshafat (em hebraico), que significa "O vale onde Deus julgará" (Vale do Julgamento). - (Joel 3:12). Surgem na Escatologia judaica profecias que incluem o retorno do Profeta Elias, seguido pela chegada do Messias (Judaísmo), e também a guerra de Gog e Magog e o Juízo Final. De acordo com as profecias, na guerra de Gog e Magog, haveria coalizões das nações pagãs que juntariam forças contra Israel. Israel seria subjugado e conquistado. Depois dos gentios finalmente atacarem Israel, Deus começaria o Julgamento. E salvaria Israel e lutaria "com doenças, chuva, fogo e pedras" contra todas as nações pagãs que se fixaram para destruir o seu povo escolhido.

 

Ver: O SANTO SACRAMENTO DA EUCARISTIA (***)

 

HORTO DAS OLIVEIRAS

Actos de João. (Complemento de Mateus 26, versículos 29 até 30 e Marcos 14: 22 a 26)

Antes que fosse preso pelo julgamento dos Judeus, O Mestre nos reuniu a todos e disse: -- "Antes que eu seja entregues a eles, cantaremos um hino ao Pai e, em seguida, iremos ao encontro daquilo que nos espera. “

Ele pediu que nos déssemos as mãos em roda e colocando-se no meio, disse: "Respondei-me Amém. “

Começou, então a cantar um hino que dizia: "Gloria ao Pai". E nós ao redor lhe respondíamos: "Amém".


Figura 4: El Jesmaniyeh — Gethsemane.

"Glória á Graça; glória ao Espírito; glória ao Santo; glória a sua glória. “ - Amém.

"Nós o louvamos, ó Pai; nós lhe damos graças, ó Luz em que não habitam as trevas. “ - Amém.

"Agora direi porque damos graças:"

"Devo ser salvo e salvarei. “ - Amém.

"Devo ser liberto e libertarei. “- Amém.

"Devo ser gerado e gerarei. “- Amém.

"Devo ouvir e serei ouvido. “- Amém.

"Devo ser lembrado e sempre lembrarei. “- Amém.

"Devo ser lavado e lavarei. “- Amém.

"A Graça dança em conjunto, eu devo tocar a flauta, dançai todos. “- Amém.

"O reino dos anjos cantam louvores connosco. “- Amém

"Ao universo pertence àquele que participa da dança. “- Amém.

"Quem participa da dança, não sabe o que vai acontecer. “- Amém.

"Devo ir mas vou ficar. “- Amém.

"Devo honrar e devo ser honrado. “- Amém.

"Não tenho morada mas estou em todas os lugares. “- Amém.

"Não tenho templo mas estou em todos os templos. “- Amém.

"Sou um espelho para aquele que me contempla. “- Amém.

"Sou uma porta para aquele que bate. “Amém.

"Sou um caminho para ti que passas. “Amém.

"Se seguires minha dança, compreendes o que falo, guarda silêncio sobre meus mistérios. “

"Tu, que participas da dança, compreendes o que faço, pois a ti pertence esse sofrimento.!

"Tu não poderias de maneira alguma compreender o que sofre, se Eu não tivesse sido enviado como Logos do Pai.“

"Viste o que sofro, me viste sofrendo, e não ficaste incessível, mas sim profundamente perturbado. “

"Tu, que pela perturbação alcançaste a sabedoria, tens em mim um leito: repousa em mim.“

"Saberás quem sou quando Eu tiver partido. O que pareço ser agora, não sou. Tu verás quando vieres.“

"Se soubesse como sofrer, seria capaz de não sofrer mais. Aprende a sofrer e tornar-te-ás capaz de não mais sofrer.“

"O que não sabes, eu mesmo te vou ensinar. Sou teu Deus. Quero andar no mesmo ritmo das almas santas. Aprende comigo a palavra da sabedoria.“

"Dize-me de novo: Glória ao Pai; glória ao Logos; glória ao Espírito Santo.

"Tu queres saber o que sou? Com a palavra revelei tudo, e não fui de modo algum revelado.“

"Compreende bem: Eu estarei aqui. Quando tiveres compreendido, diz: Glória ao Pai !"- Amém.

Marcos 14: 26 E, tendo cantado o hino, saíram para o monte das Oliveiras.

Mateus 26: 30 E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras

No Monte das Oliveiras havia duas grutas, onde Jesus costumava abrigar-se com seus discípulos, durante a noite. Uma, situada no alto, tradicionalmente chamada "Gruta dos Ensinamentos" ou "Gruta do Pai-Nosso". A outra, no sopé da montanha, perto da Tumba da Mãe de Jesus Maria, denominada "Getsêmani", do hebraico "Gat shemanim", que significa "lagar de azeite".

Donovan Joice, no seu livro “A Outra História De Jesus” contesta esta etimologia com razões etimológicas incontestáveis ainda que com motivações discutíveis. De facto, etimologicamente falando a etimologia proposta enobrece pouco este místico lugar tanto mais que seria um nome pouco poético para um jardim de fama bíblica.

36 Então foi Yeshua com eles a um lugar chamado Guei-Sh’manim,* e disse aos talmidim: “Sentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar.” - * Segundo os textos hebraicos e o Siríaco Antigo, que trazem literalmente o “Vale da Fertilidade” – vide Yeshayahu (Isaías) 28:1. Já a Peshitta traz a variante “Gad S’man”, que significa literalmente “a prensa de óleo”. -- Sefer Matitiyahu, Evangelho do Hebreus Traduzido por Sha’ul Bentsion.

Chamar a um local às portas de Jerusalém “jardim do lagar de azeite” seria muito pouco estético e depois parece que Gat shemanim nem sequer corresponde a isso. “Azeite” seria em hebreu “shemen zayeth” e o nome registado pelos evangelistas seria próximo de zeth shemen, nome da “azeitona” ou semente do azeite! Então o nome mais adequado seria *“jardim das azeitonas” o que, para um rural de hoje e mesmo mais ainda para um citadino da época, seria ridículo. Ninguém chama jardim nem pomar a um olival, quanto muito chamar-se-lhe-ia “horto das oliveiras”.

Pois bem, terá sido a confusão com o monte das oliveiras, que seria seguramente um terreno agrícola muito maior, junto do sopé do qual ficaria o dito Getsémane, razão que levou os comentadores bíblicos próximos da tese do lagar de azeite a colocarem “Jesus no Horto das Oliveiras” na primeira estação da Via-Sacra.

Os tradutores posteriores de Marcos e Mateus devem ter ficado na dúvida e, não tendo entendido o nome original, o helenizaram. Ora, os árabes quando ali chegaram, chamam-lhe El Jesmaniyeh seguramente não apenas por direito de conquista mas porque soubessem mais das tradições locais do que os semi iletrados tradutores bíblicos primitivos e também porque o tenham de facto visto como um odoroso jardim que ainda lhe cheirasse-se ao jasminum afficinale cujo nome sempre foi semita tal como era jessamane em hebreu e o jardim, *jessamaniyet ó Jetssamani < Getzemani.


Figura 5: Garden of Gethsemane, Jerusalem, Israel, illustration from the magazine The Graphic, volume XVIII, no 466, November 2, 1878.

«Jasmim» < [French jasmin, from Old French jassemin, from Arabic yasmn, from Persian yasmn, ysman, from Middle Persian ysman.]

Na opinião de Donovan Joice, este jardim serviria para produzir o óleo de jasmim que faria a riqueza de José de Arimateia, mas, outras tradições dizem explicitamente que esta propriedade era o jardim da casa de Nicodemos onde Jesus passou a última ceia.

True Gospel of Jesus, called Christ, a new prophet sent by God to the world: according to the description of Barnabas : Thereupon, on that day, there was a general search for Jesus throughout Jerusalem.

Chapter 211: Jesus, being in the house of Nicodemus; beyond the brook Cedron, comforted his disciples, saying: 'The hour is near that I must depart from the world; console yourselves and be not sad, seeing that where I go I shall not feel any tribulation. (…) Chapter 213: The day having come for eating the lamb, Nicodemus ;sent the lamb secretly to the garden for Jesus and his disciples, announcing all that had been decreed by Herod.

De resto, este horto seria um jardim de plantas medicinais como seria ainda no tempo da ocupação árabe (ver Figura 4) o que explica a afirmação do evangelho segundo S. João, inspirado por Maria Madalena:

John 19:39 39 E foi também Nicodemos (aquele que, anteriormente, se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem libras de um composto de mirra e aloés. (...) 41 E havia um horto naquele lugar onde fora crucificado e, no horto, um sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto. 42 Ali, pois (por causa da preparação dos judeus e por estar perto aquele sepulcro), puseram a Jesus.

Mateus, 27: 59 E José, tomando o corpo, envolveu-o num fino e limpo lençol, 60 e o pôs no seu sepulcro novo, que havia aberto em rocha, e, rolando uma grande pedra para a porta do sepulcro, foi-se.

Se Nicodemos tinha ali, naquele lugar onde fora crucificado Jesus, a sua casa e José de Arimateia tinha o seu túmulo por ali, então, é mais que certo que esta zona do “monte das oliveiras” seria propriedade de ambos por serem os dois sacerdotes sadoqueistas essénicos.

 

RELAPSOS

Marcos 14: 27 E disse-lhes Jesus: Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim, porque escrito está: Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão. 28 Mas, depois que eu houver ressuscitado, irei adiante de vós para a Galiléia. 29 E disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu. 30 E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás. 31 Mas ele disse com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei. E da mesma maneira diziam todos também.

Mateus 26:. 31 Então, Jesus lhes disse: Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão. 32 Mas, depois de eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galiléia. 33 Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei. 34 Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás. 35 Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, não te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo.

A ideia de que Mateus é o paradigma dos sinópticos faz esquecer a precedência que parece ter existido em Marcos.

Os versículos 30 e 31 de Marcos e 34 e 35 de Mateus são uma premonição da “tripla negação de Pedro” que só pode ser explicada num contexto metafórico duma prévia absolvição do pecado de apostasia que se iria seguir à prisão de Jesus. Que Jesus tivesse a pré-ciência crítica e o realismo político suficiente para prever o inevitável compreende-se naturalmente. Que o labéu da traição recaísse sobretudo em cima de Pedro é que já só se pode entender como uma premonição feita à posteriori do que veio a acontecer muito mais tarde na época dos santos mártires. Na verdade, muitos comentadores pensam que estes versículos são óbvias interpolações tardias feitas depois da impiedosa perseguição de Deocleciano para justificar o facto de até o papa Marcelo da época e dos muitos outros eminentes relapsos, terem feito apostasia.

No início do século V, Petiliano, o bispo donatista de Constantino, afirmou que Marcelino e os presbíteros romanos Marcello, Milziade e Silvestro (futuros papas)] entregaram os livros sagrados aos pagãos e ofereceram incenso aos falsos deuses; mas ele não produziu nenhum Nos Atos de confisco dos edifícios da Igreja em Roma, que foram levados pelos Donatistas à conferência de Cartago, houve apenas dois diáconos que haviam traído: Stratone e Cássio, Sant'Agostino d'Ippona, em suas respostas a Petiliano contestou a verdade do que foi relatado (...)

Das acusações de Petiliano, pode-se concluir que esses rumores sobre Marcelino e seus presbíteros estavam realmente circulando na África, mas que eles não podiam ser provados, caso contrário, Agostinho não os defenderia com tanta força. (...)

 A biografia de Marcelino contida no Liber Pontificalis, que provavelmente retomou uma paixão perdida, relatou que ele foi forçado a sacrificar aos deuses e queimar incenso em sua homenagem. No entanto, depois de alguns dias, ele foi vencido pelo remorso e confessou a fé em Cristo. Por esse motivo, juntamente com outros três cristãos, ele foi condenado à morte por Diocleciano. Eles foram decapitados. Parece bastante evidente que essa história tentou conciliar a voz que o papa havia oferecido incenso aos deuses com o fato de que em outros círculos ele era visto como um mártir e sua sepultura era venerada. – [2]

Sabendo que foi com o papa Marcelo que os textos sagrados foram destruídos (pouco importando para o caso se por cobardia papal se após eficaz diligencia da prefeitura romana) por ordem expressa e universal de Deocleciano, fácil se torna aceitar que a reconstituição dos textos, que necessariamente teve que ocorrer no fim da perseguição, ofereceu uma oportunidade única para os relapsos introduzirem nos textos, ainda não tão sagrados quanto hoje, o revisionismo histórico que os pudessem moralmente defender no futuro dos ataques inevitáveis dos integristas. A postura politicamente correcta de S. Agostinho foi a que costuma acontecer nestes casos quando existe maturidade política. Afinal não foi a primeira nem será a última vez que vítimas de perseguição política, ou outra menos justa, sucumbem por necessidade, fraqueza natural ou particular cobardia e são depois acusados disso pelos próprios pares.

 

AGONIA NO HORTO

Marcos 14 32 E foram a um lugar chamado Getsêmani, e disse aos seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu oro. 33 E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João e começou a ter pavor e a angustiar-se. 34 E disse-lhes: A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai.

35 E, tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora. 36 E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres.

Mateus 26 36 Então, chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar. 37 E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. 38 Então, lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até à morte; ficai aqui e vigiai comigo. 39 E, indo um pouco adiante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo:

Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.

Lucas 22: 39 E, saindo, foi, como costumava, para o monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram. 40 E, quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação. 41 E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava, 42 dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua.

44 Deixando-os novamente, foi orar terceira vez, repetindo as mesmas palavras. 45 E eis que lhe apareceu um anjo do céu o encorajando e dizendo:Sê constante, Adon, pois agora é chegada a hora na qual através do teu sofrimento, a humanidade, vendida em Adam, será resgatada.” Segundo o testemunho do manuscrito “História da Paixão do Senhor” (século XIV) e do Codex Vaticanus Reginae Latinus (século IX) sobre o original hebraico. O texto foi posteriormente omitido, talvez por glosa de copista. -- Sefer Matitiyahu, Evangelho do Hebreus Traduzido por Sha’ul Bentsion.


Figura 6: El Greco, a Agonia de Jesus no horto. (Museu de Toledo, Ohaio).

Como é que este relato não é uma mera fantasia romanesca se esta cena se passou “um pouco mais adiante(segundo Lucas, cerca de um tiro de pedra, mais ou menos 25m) do local onde as únicas testemunhas possíveis desta cena, os discípulos, estavam a dormir, porque, de acordo com todos os evangelistas, Jesus “achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam carregados”?

Lucas 22: 43 E apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava.

O segredo que nos vai ser então revelado só pode estar no versículo de Lucas que ali não devia estar, pelo menos tal como aparece redigido, pois, quando este diz: e apareceu-lhe um anjo (do céu), que o confortava”!

Na verdade, a redundância anjo do céu, como se teologicamente os houvera da terra, parece ter sido propositada para ocultar a revelação indesejada de que o conforto dum belo jovem foi, neste momento angustiante da vida de Jesus, um verdadeiro “anjo caído do céu”. De metáforas mal entendidas e de erros de tradução se tem feito do maravilhoso ornamental dos evangelhos e o culto do sobrenatural. De facto, na cena da ressurreição comprova-se que os anjos eram jovens mensageiros essénicos vestidos de branco e puro linho. Neste caso, este jovem estaria apenas embrulhado num esvoaçante lençol de linho branco e que mais adiante irá fugir nu quando em dos soldados da cena da prisão de Jesus o tentar apanhar por uma das bordas do lençol. Como todos os autores mais ousados são unanimes em considerar que só o próprio Marcos poderia ter sabido desta anedota, quase de certeza que pelo menos um discípulo neófito ficou acordado junto de Jesus e este só pode ter sido Marcos, o “jovem rico que, de acordo com o evangelho secreto de Marcos, andava por essa altura tão enamorado de Jesus que, como anjo da guarda caído do céu, nem de noite largava o seu amado Jesus!


Figura 7: Agonia no Horto de Adrea Montegna.

Então Marcos, que nunca coloca Jesus a referir-se a Deus como seu pai, revelou o inaudito, que só pode ter sido este: a vinte cinco metros dos discípulos, tão broncos quanto incautos e insensíveis, passou-se uma cena secreta que Marcos talvez tenha revelado em pormenor no seu evangelho secreto e que se perdeu precisamente por estes e outros aspectos que tornaram heréticos os cainitas e carpocracianos. Jesus esteve naquele momento doloroso com o seu pai, possivelmente Alfeu de sobrenome grego, mas talvez José de Arimateia na forma judaica, versado em drogas e unguentos, ou (alguma vez se virá a sabe-lo?) meramente o seu pai espiritual essénico e que seria o sumo-sacerdote essénico sadoquista desse ano.

v36: There are no statements in Mark in which Jesus refers to God as "my father." There are 36 such statements in John. The Gospel does not provide witnesses to this scene, so the words here must be from the writer of Mark.

v36: perhaps "cup" is a reference to 1 Cor 10:16. Brown (1994), based on the work of earlier scholars, notes both an OT and a Near Eastern tradition of the wrath of gods either drunk or served in a cup to be drunk. The term "cup of death" is also found in some Aramaic targums (Brown 1994, p169).

v36: Socrates was another tekton and teacher of wisdom who also died from a poisoned cup he drank because he had to.

v36: "Abba" here strongly echoes Galations 4:6 and also Romans 8:14-17. The term has Jewish precedents. Tomson (2001) writes: "There is a story from the first century BCE about Honi, 'the Circle Drawer', who, because of his powerful prayer, saw himself as being 'at home' with his heavenly Father and for this, just like Jesus, was viewed with suspicion by the Pharsaic leadership (m. Ta'an. 3.8; Josephus, Ant. 14:22). There is literal witness to this form of address, 'Father', in a rabbinic writing that also is related to the ancient Hasidic circles (S. El. R. 19. pp111-12)."(p138).

Então, quando Jesus sussurra, “Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cáliceestaria a referir-se não ao lado simbólico dum cálice, que viria a fazer as delícias do misticismo medieval na forma do Graal, contendo sangue de expiação, mas ao seu conteúdo narcótico que Jesus teria que beber para alívio duma ansiedade depressiva aguda manifestada na metáfora a minha alma está profundamente triste até a morte”! Na verdade, se Jesus entrasse agora em pânico todo o plano messiânico essénico, desde há muito temo cautelosamente arquitectado pelo concelho dos anciães essénico e sobejamente predito nas entrelinhas dos ensinamentos evangélicos do mestre Jesus, ficaria em perigo. Jesus, mesmo sem necessitar de divina presciência imediatamente entendeu que só podia continuar em frente!

Então, depois duma natural e compreensível hesitação momentânea Jesus lá teve que voltar a sussurrar a seu pai, enquanto bebia a mistela do cálice, por mais amarga que fosse: “não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres”.

Mas, enquanto a droga não começou a fazer efeito Jesus continuou ansioso e intranquilo! De resto é bem possível que o primeiro efeito deste narcótico fosse de excitação e euforia que no contexto só poderia ser de nervosismo e ansiedade paranóica.

Marcos 14 37 E, chegando, achou-os dormindo e disse a Pedro: Simão, dormes? Não podes vigiar uma hora? 38 Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.

39 E foi outra vez e orou, dizendo as mesmas palavras.

 

 

40 E, voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam carregados, e não sabiam o que responder-lhe.

 

41 E voltou terceira vez e disse-lhes: Dormi agora e descansai. Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. 42 Levantai-vos, vamos; eis que está perto o que me trai.

Mateus 26. 40 E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudeste vigiar comigo? 41 Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.

42 E, indo segunda vez, orou, dizendo: Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade. 43 E, voltando, achou-os outra vez adormecidos, porque os seus olhos estavam carregados. 44 E, deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.

45 Então, chegou junto dos seus discípulos e disse-lhes: Dormi, agora, e repousai; eis que é chegada a hora, e o Filho do Homem será entregue nas mãos dos pecadores. 46 Levantai-vos, partamos; eis que é chegado o que me trai.

O relato de Mateus não acrescenta nada de novo, além das redundâncias retóricas que já estavam implícitas no evangelho de Marcos. Desta redundância recorrente, caso não seja meramente estilística, se poderia inferir que Jesus estava de facto, muito nervoso, como se inferia já pelo relato anterior à entrada no Getzeman e decorre dos exageros descritivos de Lucas, típicos (e eu pecador me confesso) dum médico apostado em demonstrar a erudição da sua arte.

Lucas 22: 44 E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue que corriam até ao chão. 45 E, levantando-se da oração, foi ter com os seus discípulos e achou-os dormindo de tristeza. 46 E disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai para que não entreis em tentação.

Deste modo, Lucas procura justificar este estranho comportamento dos apóstolos com um argumento da “autoridade médica” perante ignorantes utilizada a título de explicação a postriore! De facto, a tristeza quando depressiva pode desencadear prostração seguida de choro ou sono reparador mas pode, e neste caso até deveria, motivar também ansiedade, sobretudo depois da preocupação manifestada por Jesus no seu apelo à vigilância, e, depois, insónia pelo que se estranha que não tenha havido nem um discípulo que não tenha ficado acordado…excepto o jovem Marcos que neste caso com a sua assinatura testemunha a veracidade destes factos! Ou seja, o mais plausível é que os discípulos não se tivessem apercebido da gravidade da situação, ou, o que começa a não ser assim tão misterioso, nunca estiveram a par do essencial da paixão de Jesus pela simples razão de que se tratava dum grave segredo político de que só Judas Iscariotes estaria a par, não fossem os tontos dos discípulos estragar tudo com a sua ingénua literalidade ortodoxa!

Beare (p. 512) also noted the witness problem: that none of the disciples could have overheard Jesus' prayer, since even the three who were closest to him had fallen asleep. Hence, there was no witness other than Jesus himself. So how did the writer of Matthew ever learn about it? Also, the standard Greek text, as well as earlier Bibles until the present century, instead presented Jesus' final question to his disciples as the statement, "Sleep on now, and take your rest... Arise, let us be going . “ Beare (p. 515) realized how puzzling these words are. The disciples are already asleep — why then tell them to sleep? Then, immediately afterwards, why tell them to rise? One interpretation might be that Jesus was using irony or sarcasm in speaking this oxymoron to his disciples. However, the solemnity of the occasion renders this very improbable, and an abrupt transition from solemnity to irony and back to solemnity lacks realism. -- Jim Deardorff, MATTHEW-TJ VERSE COMPARISONS.

Aceitando mais uma vez a precedência incontornável de Marcos sobre os restantes canónicos verificamos então o que iremos de novo constatar a respeito de Barrabás: que Marcos sabia bem do que estava a falar por ser possivelmente a única testemunha ocular desta cena! Na verdade, estando os discípulos a dormir quem teria sido a testemunha da agonia solitária de Jesus? Por causa desta pergunta óbvia apareceu um evangelho apócrifo de autenticidade mais do que duvidoso a referir Judas Iscariotes como a testemunha desta cena.

TJ 28: 14 Depois de voltar, ele encontrou novamente os discípulos a dormir, e só Judas Iscariotes permaneceu acordado com ele... 18 Com a face corada (de revolta) voltou-se para os seus discípulos dizendo: vocês querem dormir e descansar agora, ou vocês querem vigiar comigo? Vejam, já chegou a hora em que eu serei devolvido às mãos do chefe da guarda. 19 Então, levantem-se e vamo-nos, porque vejam, o chefe da guarda vem aí!” Enquanto ele ainda falava, vede! Chegou Judá Ihariotes, o filho do Fariseu, e com ele um grande grupo de principais sacerdotes e anciãos do povo, armados com espadas e varas. -- [3]

Só que para sustentar esta tese completamente arbitrária este apócrifo fraudulento[4] moderno inventa logo de seguida um duplo de Judas alcunhado Iscariotes. A natureza crítica e decisiva deste óbice fica patente na forma como é usada pelo ateísmo para por em causa a historicidade evangélica de Jesus.

CNN in the Garden of Gethsemane?

Is it unreasonable to ask just who recorded not only one of the last prayers of the godman but also the last occasion when the "living" superhero was with his acolytes? The only possible witnesses were asleep.

(…) And he cometh, and findeth them sleeping, and saith unto Peter, "Simon, sleepest thou? (…) And when he returned, he found them asleep again, (…) And he cometh the third time, and saith unto them, "Sleep on now, and take your rest: it is enough, the hour is come; behold, the Son of man is betrayed into the hands of sinners."

Mark 14.36,41 (Matthew's version is almost identical, Luke has a shortened version and John omits the scene entirely.)

But of course as sacred theatre – a fabula praetexta – such paramulations back and forth and rhetorical declamations to an audience are precisely what we would expect. -- [5]

Obviamente que Marcos não era considerado um dos discípulos mas deve ter sido o único a assistir à cena por ter sido possivelmente o “anjo” que consolou Jesus neste momento de agonia pessoal. A agonia seria tão íntima e a previsibilidade da prisão de Jesus tão remota que os discípulos, crentes ingénuos no poder taumatúrgico do seu Mestre, nem perderam o sono e Marcos, que iria assinar dentro em breve o seu evangelho como sendo o “jovem do lençol” estaria acordado por ser nesta altura o discípulo amado e recentemente perdido de amores ambíguos por Jesus depois do susto da ressurreição de Lázaro. Temos assim mais um reforço de prova de que Lázaro foi o “jovem rico” e que esta foi também Marcos!

Não se entende muito bem porque é que Lucas, que tendo sido um gentio só veio a saber das coisas da paixão por interpostas pessoa, teve a ousadia de acrescentar informações aos outros sinópticos, sobretudo às informações de Marcos, supostamente a única testemunha destes mesmos. No entanto, como nada sabemos sobre o conteúdo dos vários originais de Marcos que, tudo indica, seriam textos iniciáticos e portanto secretos, aceitemos, por orab o postulado de que Lucas teria tido acesso a uma versão do evangelho secreto de Marcos, hoje perdido pelo menos num escasso mas significativo fragmento!

 

Ver: EVANGELHOS SECRETOS DE MARCOS (***)

 

No entanto, os acrescentos de Lucas são fundamentais para compreendermos o que de estranho e decisivo se terá passado realmente no Getsémani!

E porque era tanta a necessidade que Jesus tinha da vigilância dos apóstolos ao ponto de se ter desapontado com Pedro por este não ter ficado acordado nem sequer uma hora? Qual era a “tentação” em que Jesus temia que os apóstolos caíssem?

O termo grego peirasmoi , que parece ser sido usado apenas pela literatura cristã, tem derivação a partir da provação iniciática, ou seja, precisamente com a prova física ou espiritual em que o neófito era colocado como metáfora duma preparação prévia para as provações da vida adulta! A conotação de tentação demoníaca deve ter ocorrido muito mais tarde com o uso abusivo do conceito de prova de fidelidade religiosa a que os crentes eram submetidos ora por Deus...ora pelo diabo!

Peirasmos = trial, temptation < peirazô = to make proof or trial of ó peiraô <= Peira = trial, attempt, being proved, to make trial or proof; also, gain experience of, undertake, II. attempt on or against one, a means of attacking; esp. attempt to seduce a woman, attempt, enterprise, to go forth upon an enterprise, cf. peiratês. (Cf. Lat. experior, peritus.) > peirô = to pierce quite through, fix

Deixando de lado a suspeita de que a verdadeira provação iniciática pode ter deixado rasto na conotação que peira tem de “tentativa de sedução duma mulher” e na estranha semântica “das difíceis penetrações totais” de peirô, ao ponto de confirmar as teses de Bernard Sergent de que estas poderem ter envolvido, em tempos arcaicos, rapto prévio seguido de uma efectiva violação sexual posteriormente substituída por rituais simbólicos (razão pela qual os ritos de passagem da época antiga eram secretos) verifica-se, no que por ora interessa, que a provação que Jesus temia não era uma tentação diabólica porque, passe a ironia, os anjos andavam ali por perto (ver: Lucas 22: 43), mas que a sua prisão previamente acordada não viesse a correr sem incidentes nem delongas coisa que a impetuosidade desastrada e ingénua de Pedro iam deitando a perder quando este puxou da espada e feriu um funcionário do templo arriscando com isso um longo processo de sedição e rebelião!



[1] CHAPTER XLVIII OF THE TEACHING OF THE APOSTLES, AND OF THE PLACES OF EACH ONE OF THEM, AND OF THEIR DEATHS -- The Book of the Bee - is a Nestorian Christian sacred history. According to Budge it was written ca. A.D. 1222 by a Syrian bishop named Solomon (Shelêmôn).

[2] https://it.wikipedia.org/wiki/Papa_Marcellino

[3] TALMUD DE JMMANUEL

[4] Tão fraudulento que foi contradito pelo verdadeiro evangelho de Judas entretanto encontrado pela arqueologia.

[5] http://www.jesusneverexisted.com/surfeit.htm.

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